29 maio 2010

Mickey Mouse ganha versões nordestinas



Com foco em expandir sua marca no Nordeste, a Disney entrou em contato com alguns artistas para criar versões mais regionais do símbolo maior da companhia: Mickey Mouse.

Derlon Almeida, do Recife, Érica Zoe, de Fortaleza, e Cau Gomez, que nasceu em Belo Horizonte mas trabalha há muitos anos em Salvador, são os nomes que readaptaram o popular ratinho para contextos mais nordestinos.


Nas mãos desses ilustradores, Mickey Mouse tocou berimbau no Pelourinho, foi "xilogravado" no melhor estilo da Literatura em Cordel pernambucana e se uniu ao trio de forró do Ceará.

27 maio 2010

Conheça a arte nas pinturas de Romero Brito


Nascido no Recife, Pernambuco, em 06 de outubro de 1963, no Brasil, aos oito anos começou a mostrar interesse e talento pelas artes. Com muita imaginação e criatividade, pintava em sucatas, papelão e jornal. Sua família o ajudava a desenvolver seu talento natural, dando-lhe livros de arte para estudar. “Eu ficava sentado e copiava Tolouse e outros mestres dos livros, por dias e dias.

“Aos 14 anos fez sua primeira exibição pública e vendeu seu primeiro quadro à Organização dos Estados Americanos. Embora encorajado por este sucesso precoce, as circunstâncias modestas de sua vida o motivaram a estabelecer metas e a criar seu próprio futuro. “Na condição de criança pobre no Brasil, tive contato com o lado mais sombrio da humanidade. Como resultado, passei a pintar para trazer luz e cor para minha vida.“

Freqüentou escolas públicas, recebeu bolsa de estudos para uma escola preparatória e aos 17 anos entrou para a Universidade Católica de Pernambuco, no curso de Direito. Viajou para a Europa para visitar lugares novos e ver a arte que só conhecia nos livros. Durante um ano pintou e exibiu seus trabalhos em vários países como Espanha, Inglaterra, Alemanha e outros. Quando retornou ao Brasil, seu desejo de ter contato com o mundo ficou ainda mais forte, queria continuar a viajar e mostrar sua arte. Com isso, desistiu do curso de Direito e decidiu ir visitar um amigo de infância, Leonardo Conte, que estava estudando inglês em Miami, nos Estados Unidos.

Lá se deu conta que tinha muita empatia com o ritmo acelerado do “american way of life“. A diversa paisagem cultural e a beleza tropical o fizeram lembrar do Brasil. Fez de Miami, então, sua residência permanente.

Trabalhou como atendente em lanchonete e lava-rápido, como ajudante de jardineiro e caixa de loja. Durante esse percurso, ele fez muitas amizades e através desses amigos conheceu Cheryl Ann com quem se casou e teve um filho, Brendan Britto.

Durante o processo de busca de uma galeria onde pudesse expor sua arte, Romero começou a mostrar seu trabalho nas calçadas de Coconut Grove, na Flórida. Depois chegou até a Steiner Gallery, em Bal Harbour, também na Flórida.

Foi nessa galeria que Berenice Steiner e Robyn Tauber começaram a vender seus trabalhos a entusiastas da arte do mundo inteiro.



Abaixo, algumas de suas obras:


The Hug


Lessons Of Love


Festejar


After Making Love

26 maio 2010

Poesias de Raimundo Nonato da Silva


Raimundo Nonato da Silva é poeta, compositor e repentista, filho do também repentista Dionísio Pedro, nasceu no sítio Pinhão, no município de Vieirópolis, semiárido paraibano. Atualmente Raimundo reside na cidade de Sousa-PB. Confira abaixo a relação de algumas de suas poesias.



25 maio 2010

Vídeos sobre cantorias e repentistas


(Sebastiao da Silva e Zé Cardoso)

A Cantoria é um debate ou peleja, em versos improvisados, cantados geralmente em dupla, num local previamente determinado. Câmara Cascudo dedicou grande parte de sua vida e de sua obra ao estudo e divulgação dessa arte, que é uma tradição folclórica muito forte na região Nordeste, onde são encontrados os seus maiores representantes. Ela tem regras e gêneros que são obedecidos fielmente pelos cantadores.

Cantar repente, como o próprio nome já diz, é cantar de improviso (de repente) e exige muita astúcia e rapidez de raciocínio. O repentista ou violeiro tem uma memória espantosa e uma precisão surpreendente, pois passam horas atacando e se defendendo, respondendo charadas, recitando trava-línguas e desfazendo insultos. E nesses encontros são formuladas verdadeiras filosofias populares e obras primas da poesia.

Vejam a seguir, alguns vídeos que mostram detalhes de cantoria e depoimentos sobre a vida e a obra de vários gênios do repente.


Boi na cajarana
(Valdir Teles e Zé Viola)

Documentário: Parte 1, Parte 2
(Pinto do Monteiro e Louro do Pajeú - 1969)

(Francinaldo Oliveira e Silvio Granjeiro)

Cantoria
(Os Nonatos)

A Voz do Uirapuru: Parte 1, parte 2
(Otacilio Batista Patriota)

(Geraldo Amancio e Sebastião da Silva)

(Valdir Teles e Zé Cardoso)

Poetas do Repente
01, 02, 03, 04, 05, 06, 07, 08, 09, 10.


23 maio 2010

Poesia: "Literatura e português rimado" - Raimundo Nonato


Literatura e português rimado
(Poeta Raimundo Nonato da Silva)

Apresentação

Caros amigos leitores
Povo da minha nação
Eu sou Raimundo Nonato
Um poeta do sertão
Trago o português rimado
Pra lhes servirem de lição

Dedicatória

Dedico de coração
Este trabalho a vocês
Eu resolvi fazer
O que outro nunca fez
Passei pra rimas e versos
Um pouco do português
Sousa cidade sorriso
Eu moro lá companheiro
Eu sou um paraibano
Nordestino Brasileiro
Escrevi este trabalho
Pro povo do mundo inteiro
Agradeço a quem gostar
Do livrinho de Raimundo
Quem não gostar me perdoe
Se não fui muito profundo
Que nem mesmo Jesus Cristo
Agradou a todo mundo
Este trabalho é profundo
Pra quem gosta da leitura
Aqui tem o português
E tem a literatura
Quando você lê o livro
Aumenta a sua cultura

22 maio 2010

No interior se fala assim




No interior se fala assim
 (Ismael Gaião da Costa)

Há diferenciação
Porque cada região
Tem seu jeito de falar
O Nordeste é excelente
Tem um jeito diferente
Que a outro não se iguala
Alguém chato é Abusado
Se quebrou, Tá Enguiçado
É assim que a gente fala

Uma ferida é Pereba
Homem alto é Galalau
Ou então é Varapau
E coisa ruim é Peba
Cisco no olho é Argueiro
O sovina é Pirangueiro

Enguiçar é Dar o Prego
Fofoca aqui é Fuxico
Desistir é Pedir Penico
Lugar longe é Caxaprego
Ladainha é Lengalenga
E um estouro é Pipoco
Qualquer botão é Pitoco
E confusão é Arenga

Fantasma é Alma Penada
Uma conversa fiada
Por aqui é Leriado
Palavrão é Nome Feio
Agonia é Aperreio
E metido é Amostrado
O nosso palavreado
Não se pode ignorar
Pois ele é peculiar
É bonito, é Arretado
E é nosso dialeto
Sendo assim, está correto

Dizer que esperma é Gala
É feio pra muita gente
Mas não é incoerente
É assim que a gente fala

Você pode estranhar
Mas ele não tem defeito
Aqui bala é Confeito
Rir de alguém é Mangar

Mexer em algo é Bulir
Paquerar é Se Inxirir
E correr é Dar Carreira
Qualquer coisa torta é Troncha
Marca de pancada é Roncha
E a caxumba é Papeira

Longe é o Fim do Mundo
E garganta aqui é Goela
Veja que a língua é bela
E nessa língua eu vou fundo
Tentar muito é Pelejar
Apertar é Acochar

Homem rico é Estribado
Se for muito parecido
Diz-se Cagado e Cuspido
E uma fofoca é Babado
Desconfiado é Cabreiro
Travessura é Presepada
Uma cuspida é Goipada
Frente de casa é Terreiro

Dar volta é Arrudiar
Confessar, Desembuchar
Quem trai alguém, Apunhala
Distraído é Aluado
Quem está mal, Tá Lascado
É assim que a gente fala

Aqui valer é Vogar
E quem não paga é Xexeiro
Quem dá furo é Fuleiro
E parir é Descansar
Um rastro é Pisunhada
A buchuda é Amojada
E pão-duro é Amarrado

Verme no bucho é Lombriga
Com raiva Tá Com a Bixiga
E com medo é Acuado
Tocar em algo é Triscar
O último é Derradeiro
E para trocar dinheiro
Nós falamos Destrocar

Tudo que é bom é Massa
O Policial é Praça
Pessoa esperta é Danada
Vitamina dá Sustança
A barriga aqui é Pança
E porrada é Cipoada

Alguém sortudo é Cagado
Capotagem é Cangapé
O mendigo é Esmolé
Quem tem pressa é Avexado
A sandália é Percata
Uma correia, Arriata
Sem ter filho é Gala Rala
O cascudo é Cocorote
E o folgado é Folote
É assim que a gente fala

Perdeu a cor é Bufento
Se alguém dá liberdade
Pra entrar na intimidade
Dizemos Dar Cabimento
Varrer aqui é Barrer
Se a calcinha aparecer
Mostra a Polpa da Bunda
Mulher feia é Canhão
Neco é pra negação
Nas costas, é na Cacunda

Palhaçada é Marmota
Tá doido é Tá Variando
Mas a gente conversando
Fala assim e nem nota
Cabra chato é Cabuloso
Insistente é Pegajoso
Remédio aqui é Meisinha
Chateado é Emburrado
E quando tá Invocado
Dizemos Tá Com a Murrinha

Não concordo, é Pois Sim
Tô às ordens é Pois Não
Beco ao lado é Oitão
A corrente é Trancilim
Ou Volta, sem o pingente
Uma surpresa é, Oxente!
Quem abre o olho Arregala
Vou Chegando, é pra sair
Torcer o pé, Desmintir
É assim que a gente fala

A cachaça é Meropéia
Tá triste é Acabrunhado
O bobo é Apombalhado
Sem qualidade é Borréia
A árvore é Pé de Pau
Caprichar é Dar o Grau
Mercado é Venda ou Bodega
Quem olha tá Espiando
Ou então, Tá Curiando
E quem namora Chumbrega

Coceira na pele é Xanha
E molho de carne é Graxa
Uma pelada é um Racha
Onde se perde ou se ganha
Defecar se chama Obrar
Ou simplesmente Cagar
Sem juízo é Abilolado
Ou tem o Miolo Mole
Sanfona também é Fole
E com raiva é Infezado

Estilingue é Balieira
Uma prostituta é Quenga
Cabra medroso é Molenga
Um baba ovo é Chaleira
Opinar é Dar Pitaco
Axila é Suvaco
E cabra ruim é Mala
Atrás da nuca é Cangote
Adolescente é Frangote
É assim que a gente fala

Lugar longe aqui é Brenha
Conversa besta, Arisia
Venha, ande, é Avia
Fofoca é também Resenha
O dado aqui é Bozó
Um grande amor é Xodó
Demorar muito é Custar
De pernas tortas é Zambeta
Morre, Bate a Caçuleta
Ficar cheirando é Fungar

A clavícula aqui é Pá
Um mal-estar é Gastura
Um vento bom é Frescura
Ali, se diz, Acolá
Um sujeito inteligente
Muito feio ou valente
É o Cão Chupando Manga
Um companheiro é Pareia
Depende é Aí Vareia
Tic nervoso é Munganga

Colar prova é Filar
Brigar é Sair no Braço
Nosso lombo é Ispinhaço
Faltar aula é Gazear
Quem fala alto ou grita
Pra gente aqui é Gasguita
Quem faz pacote, Embala
Enrugado é Ingilhado
Com dor no corpo, Ingembrado
É assim que a gente fala

Um afago é Alisado
Um monte de gente é Ruma
Pra perguntar como, é Cuma
E bicho gordo é Cevado
A calça curta é Coronha
Um cabra leso é Pamonha
E manha aqui é Pantim
Coisa velha é Cacareco
O copo aqui é Caneco
E coisa pouca é Tiquim

Mulher desqualificada
Chamamos de Lambisgóia
Tudo que sobra, é Bóia
E muita gente é Cambada
O nariz aqui é Venta
A polenta é Quarenta
Mandar correr é Acunha
Ter um azar é Quizila
A bola de gude é Bila
Sofrer de amor, Roer Unha

Aprendi desde pivete
Que homem franzino é Xôxo
Quem é medroso é um Frouxo
E comprimido é Cachete
Sujeira em olho é Remela
Quem não tem dente é Banguela
Quem fala muito e não cala
Aqui se chama Matraca
Cheiro de suor, Inhaca
É assim que a gente fala

Pra dizer ponto final
A gente só diz: E Priu
Pra chamar é Dando Siu
Sem falar, Fica de Mal
Separar é Apartá
Desviar é Ataiá
E pra desmentir é Nego
Quem está desnorteado
Aqui se diz Ariado
E complicado é Nó Cego
Coisa fácil é Fichinha
Dose de cana é Lapada
Empurrão é Dá Peitada
E o banheiro é Casinha

Tudo pequeno é Cotoco
Vigi! Quer dizer, por pouco
Desde o tempo da senzala
Nessa terra nordestina
Seu menino, essa menina!
É assim que a gente fala

20 maio 2010

Poesia: "Beleza e Feiúra" - Allan Sales


Beleza e Feiúra
(Allan Sales)

Poemas acerca beleza e da feiúra.
A beleza nos atrai
Quando ela nos procura
Mas beleza sem ter alma
É qual noite obscura
A beleza até encanta
Mas burrice me espanta
Muito mais do que a feiúra

Pode até ser gostosinha
Ter um corpo escultural
Ser mulher descomunal
A potranca em toda linha
Mas ser for assim burrinha
A parada é muito dura
Mas existe quem atura
Sendo linda e uma anta
Pois burrice nos espanta
Muito mais do que a feiúra

Sendo ela Elizabeth
Não vai ter esse perigo
Pois a Beth digo amigo
Dela eu virei tiete
Pra jogar até confete
Beth é uma belezura
Beth é beleza pura
Pois possui beleza tanta
Pois burrice nos espanta
Muito mais do que a feiúra

Linda mas fala “pobrema”
E se veste muito brega
É um encosto que nos pega
Gente assim só no cinema
Pois não vai rolar poema
Se é pobre na cultura
Se ela é cavalgadura
Nem se eu fosse de alma santa
Pois burrice nos espanta
Muito mais do que a feiúra


19 maio 2010

Um mundo desconhecido


Um mundo desconhecido
(Raimundo Nonato da Silva)

Tava dormindo e sonhei
Com um lugar que não conheço
Era um lugar deferente
Sem fim sem meio nem começo
Cidade desconhecida
De casas sem endereço

Só Deus sabe e eu conheço
Porque avistei em sonho
Não é um conto de fada
Apesar de ser risonho
Mas, o lugar é do jeito.
Conforme aqui eu componho

Esta cidade do sonho
Não achei ornamentada
Cada pedra era uma casa
E servia de morada
A pedra era bem molinha
Lá de duro não vi nada

No sul no norte que nada
Não estar em nem um pólo
Nem no céu e nem no ar
Nem na água nem no solo
Nem no alto nem embaixo
Nem também no subsolo

Não há nenhum ser de colo
Neste lugar diferente
Parte intima ficam atrás
A nádega fica na frente
E a cabeça é de banda
Ninguém parece com gente

A boca de cada vivente
Parece um cacimbão cheio
Cada língua dar dois metros
Cada dente é metro e meio
Ô povo triste é aquele
Ô meu Deus que povo feio

Não tem nada de beleza
Eita lugar esquisito
Sem cor sem comer sem água
Não tem silencio nem grito
Doce insosso nem salgado
Não vi nada de bonito

Neste lugar esquisito
Pode crer eu lhe garanto
Se hoje ele estiver aqui
Amanhã ta noutro conto
Não tem menos nem tem mais
Tudo é de um só tanto

O olho de cada um
É uma fogueira acesa
Não tem cama nem tem rede
Não tem cadeira nem mesa
No lugar não tem nem terra
Lá eu vi muita tristeza

Não tem diabo nem tem santo
Nem o bem e nem o mal
E quando não sobe desce
Sempre muda de local
Sem andar e sem voar
E sem ser espacial

Não tem dor nem hospital
Nem doutor e nem remédio
Ninguém sente amor nem casa
Nem rói nem tem dor de tédio
O buraco do nariz
De cada um é um prédio

Ninguém vai por intermédio
Nem dela nem também dele
Ele diz que gosta dela
Ela diz que gosta dele
Meu Deus que terra é aquela
Que povo feio é aquele

Lá eu os vi ela e ele
Os dois numa só função
Ele era o presidente
Daquela triste nação
E ela a primeira dama
Deste país de ilusão

Meu deus que triste nação
Ô país ruim da peste
Sem distrito federal
Sem capital sem nordeste
Sem estado e município
Sem sertão e sem agreste

Não tem leste nem oeste
Prefeito é sem prefeitura
Governo não tem palácio
Político não tem mistura
Lá é tudo igualitário
Não vi ninguém com frescura

Falei a verdade pura
Acredite seu João
Que lá carro anda sem roda
Sem macha e sem direção
Sem freio e sem gasolina
Sem ser no ar nem no chão

Ninguém usa arma na mão
Diz que guerra é sem futuro
Lá ninguém toma emprestado
Não tem agiota e juro
Ninguém vê um fruto verde
Mas, também não tem maduro.

Não tem claro nem escuro
Eu nem gosto de pensar
Não tem rio nem açude
Terra montanha nem mar
Não sei como aquele povo
Mora naquele lugar

Árvore e pássaro não eu vi lá
Lá não tem vegetação
Nem jornal e nem revista
Radio nem televisão
Este país só parece
Com minha imaginação

Tem outra lua e outro só
Pode acreditar que tem
Deus participou do sonho
Que eu participei também
Nem a metade do sonho
Eu não falei pra alguém

Eu ainda vi também
Um monstro forte e graúdo
No lugar das pernas os braços
Ô gigante cabeludo
Lá eu só não vi aluna
Professor e nem estudo

Foi o país mais graúdo
Que em sonho pude ver
Eu sonhei, mas é um sonho.
Que eu queria esquecer
Outro sonho ruim daquele
Nunca mais eu quero ter

Só em pensar em dizer
Veja só causa atropelo
Cada animal diferente
Com cada tipo de pêlo
Só em vê me arrepiou
Cada fio de cabelo

Ô meu Deus que desmantelo
Eita lugar diferente
Este país é tão feio
Tem cada tipo de gente
Nunca mais eu quero vê
Aquele mundo na frente

Têm cientistas inteligentes
Que diz que são entendidos
Que sabe um pouco dos astros
E pensam que são sabidos
Mas, não descobrem que Deus.
Tem países escondidos

Em busca de outros sentidos
Eu vi nesta terra infinda
Que apesar de não ser
Uma nação ótima e linda
Mas, tem remédio pra AIDS.
E o Brasil não tem ainda

Não é uma terra linda
Mas, quem vive lá tem chance.
De não ser vitima da AIDS
E de não morrer de câncer
Não tem tiro de canhão
E nem tem míssil de lance

O homem não tem alcance
Sabe Deus e o meu eu
Talvez ninguém nunca sonhe
Um sonho como este meu
Este sonho é um presente
Que pai do céu me deu

Se alguém sonhou esqueceu
Não teve conhecimento
Pois se tivesse podia
Ter morrido no momento
Muito embora esta cidade
Está no meu pensamento

Foi grande acontecimento
Outro talvez não aconteça
Um quer vê e se lembrar
Outro pede que eu esqueça
Só sei que é coisa de mais
Para uma só cabeça

Em neste país existe
Coisa errada e coisa exata
Menino com voz de homem
Cachorro com voz de gata
Num sonho eu também pensei
Que eu era um vira lata

De vestido eu vi barata
De paletó percevejo
Calça com mais de cem pernas
Feita para caranguejo
Uma cobra engoliu outra
Só quando foi dar um beijo

Eu mais nunca em sonho vejo
Este lugar de magia
Aonde o homem engravida
E burra também da cria
Mas, antes deu descobrir.
Deus de tudo já sabia

Não é lugar de magia
Mas, tem acontecimento.
Em cada canto a surpresa
Pega a gente no momento
Um ser com cara de gente
E o corpo de jumento

O jumento é o transporte
Lá daquela região
Pernas e braços os pneus
As orelhas a direção
Os olhos são os faróis
O freio é o rabo que nós
Paramos com puxão

Sim antes que eu esqueça
Neste meu sonho sonhado
Em vulto eu ainda vi
Doze paises de lado
Quando eu fui vê o que era
Na hora fui acordado

Este tal lugar falado
Lá não tem homens ateus
Não tem diabo nem tem santo
Escribas nem fariseus
Não tem o bem nem o mal
Também foi feito por Deus

17 maio 2010

A literatura de cordel em um Torneio Internacional de Jovens Poetas

Em março de 2010, demos início ao I Desafio internacional Um, dois, três, Rimando em Português. Nele tomaram parte jovens de três países: Portugal, Brasil e França, que falam e escrevem em língua portuguesa. Estes alunos participam de um projeto de produção colaborativa de textos através da internet chamado Vôos em Língua Portuguesa .

É com grande orgulho que hoje publicamos os versos e o resultado da competição. A primeira vista os números impressionam, já que, usando tecnologias acessíveis a qualquer escola, conseguimos envolver:

3 países (Portugal, França e Brasil).
2 continentes.
3 escolas.
6 turmas.
125 alunos participantes.

Que produziram:
18 estrofes
108 versos
756 sílabas poéticas.

OS COORDENADORES

O projeto foi idealizado por Fábio Sombra, autor brasileiro de livros infanto-juvenis e pela professora portuguesa Emília Miranda, responsável pelo blog Voos em LP, hospedado pela Universidade do Minho. Emília foi também a coordenadora do trabalho realizado pelos alunos da Escola Dr. Carlos Pinto Ferreira, de Vila do Conde, Portugal.

Em seguida, passamos a contar com o entusiasmo e a dedicação de mais duas professoras: a Isabel da Costa, da Seção Portuguesa do Lycée international de Saint-Germain-en-Laye, na França e da professora Andrea Toledo, que coordenou o trabalho dos alunos da Escola Guido Marlière em Cataguases, Minas Gerais, Brasil.

O TORNEIO TOMA FORMA

O objetivo do projeto foi criar um desafio em versos rimados, no estilo das pelejas que encontramos na Literatura de Cordel. Os alunos das três escolas estavam lendo e trabalhando em sala de aula com um livro do autor Fábio Sombra: A peleja do violeiro Magrilim com a formosa princesa Jezebel e foi através desta obra que os alunos foram apresentados a um desafio em versos entre os personagens principais.

Para dar início ao torneio entre as escolas escolhemos inicialmente o meio de comunicação: a peleja seria realizada através da internet, por meio de e-mails trocados entre os participantes. A seguir definimos as regras da disputa e o formato das intervenções de cada participante: estrofes de seis versos, com sete sílabas poéticas em cada um deles. Sorteamos a ordem em que as escolas participariam e, finalmente, o tema da disputa: COMIDA. Assim, cada um dos países poderia exaltar e falar de seus pratos típicos e de suas culinárias nacionais ou regionais. Esta escolha se mostrou bastante apropriada e, como veremos a seguir, fomos brindados com uma verdadeira viagem gastronômica.

O último detalhe foram os motes, criados por Fábio Sombra, para que os alunos se guiassem na escolha das rimas e da métrica da disputa. O primeiro deles, com a rima em “ão” e o segundo com a rima em “inha”:

“Minha mesa é bem mais farta
Do que a sua, meu irmão.”

Já o mote-resposta, com rimas em "inha" foi:

Pois eu digo que sua mesa
Não é farta como a minha:

INICIAM-SE OS TRABALHOS

Ao longo de quase dois meses, os alunos se empenharam e os e-mails cruzaram o Oceano Atlântico com um entusiasmo nunca visto. Antes de inserirem suas estrofes no quadro oficial do torneio, os alunos enviavam seus versos ao autor Fábio Sombra, que sugeria pequenos ajustes ou tirava dúvidas sobre a métrica apropriada dos versos. Este trabalho foi muito importante para que, ao final, todas as estrofes pudessem ser cantadas com o acompanhamento de instrumentos musicais.

LEIA AQUI O TORNEIO NA ÍNTEGRA!

Fábio Sombra iniciou o torneio com duas estrofes, somente para dar aos participantes um exemplo real para que estes compusessem seus próprios versos. Notem a presença do mote em em cada uma delas:

Minha mesa é bem mais farta
Do que a sua, meu irmão:
Nela tenho carne e leite
Azeitonas, macarrão
Tenho uvas, chocolate,
E uma torta de limão.

Pois eu digo que sua mesa
Não é farta como a minha:
Pois na minha tenho doces
Ovos, queijos e galinha
Tenho sopa de legumes
Bom azeite e até sardinha.

Os alunos de Portugal dão início a peleja exaltando a rica culinária lusitana:

Minha mesa é bem mais farta
Do que a sua, meu irmão:
Tem um belo bacalhau
Cozido no caldeirão
Bem regado com azeite
E um bom vinho da região.

(turma E do 6.º ano da Escola E. B. 2, 3 Dr. Carlos Pinto Ferreira, Junqueira, Vila do Conde, 24 de Março de 2010)

Os brasileiros não deixam por menos e mencionam a diversidade da culinária de um país com dimensões continentais:

Pois eu digo que a sua mesa
Não é farta como a minha:
Da Amazônia tropical
Até o Sul da minha terrinha
A fartura é tão variada
Que você nem adivinha

(Turma do 4.º ano da Escola Guido Marlière, Cataguases, Minas Gerais, Brasil, 27 de Março de 2010)

Eis que então os alunos da França entram na disputa como representantes de um país que trata a culinária como um orgulho nacional. E começa o desfile de queijos, pães e vinhoscelebrados e conhecidos internacionalmente:

Minha mesa é bem mais farta
Do que a sua, meu irmão:
E com a nossa raclette
E uma baguete na mão
E um bom vinho de Bordéus
Ninguém passa à frente, não!

(turma do 8º ano da Secção Portuguesa do LI/França, 2 de Abril de 2010)

Os de Portugal reagem com bravura. E não se intimidam com a tradição francesa e nem com a fartura brasileira. A “francesinha” a que se referem é um suculento sanduíche, muito apreciado na região do Porto:

Pois eu digo que a sua mesa
Não é farta como a minha:
Se no Brasil há fartura
Em Portugal há canjinha
E se em França tem raclette
Nós temos a “francesinha”!

(turma E do 6.º ano da Escola E. B. 2, 3 Dr. Carlos Pinto Ferreira, Junqueira, Vila do Conde, 12 de Abril de 2010)

Chega a vez dos brasileiros, muito orgulhosos da sua tradicional feijoada, um cozido de feijões pretos, carnes e linguiças e, como não poderia faltar, a famosa cachaça (ou pinga) com limão que sempre acompanha o prato.

Minha mesa é bem mais farta
Do que a sua, meu irmão:
Aqui temos feijoada
E a pinga com limão
Com um molho de tomate
Está feito o macarrão

(Turma do 4.º ano da Escola Guido Marlière, Cataguases, Minas Gerais, Brasil, 14 de Abril de 2010)

Quando o assunto se vira para a área dos queijos, aí, realmente ninguém consegue competir com os da França. Aqui, brasileiros e portugueses abaixam a cabeça e é a França quem leva a melhor:

Pois eu digo que a sua mesa
Não é farta como a minha:
Aqui há queijo à vontade,
Roquefort na barriguinha,
Camembert, Beaufort et Bleu
Nunca sem boa pinguinha!

(Turma do 7° ano da Secção Portuguesa do Liceu Internacional, França, 16 de Abril de 2010)

Mas Portugal se recupera e reage com bravura. É difícil não ouvir falar em leitão com laranja sem que nos venha aquela aguinha à boca... E ainda mais com melão de sobremesa...

Minha mesa é bem mais farta
Do que a sua, meu irmão:
Como prato especial,
Apresentamos leitão
Com laranja acompanhado.
E por fim, um bom melão!

(turma E do 6.º ano da Escola E. B. 2, 3 Dr. Carlos Pinto Ferreira, Junqueira, Vila do Conde, 19 de Abril de 2010)

E retornam os brasileiros, imbatíveis quando o assunto cai no tema dos sucos de frutas. A coxinha de frango é uma fritura muito popular por aqui e está sempre presente em festas e ocasões festivas. Não são nem um pouco “diet”, mas que são deliciosas, ah, isto são...

Pois eu digo que a sua mesa
Não é farta como a minha:
Temos suco de morango
E no prato uma coxinha
Pra fartura ser completa
Nós tomamos uma sopinha

(Turma do 4.º ano da Escola Guido Marlière, Cataguases, Minas Gerais, Brasil, 21 de Abril de 2010)

Escargots, patês, pernas de rã e champagne... Em matéria de refinamento esses franceses são mesmo insuperáveis... Vejam só o que trouxeram para a nossa peleja:

Minha mesa é bem mais farta
Do que a sua, meu irmão:
Temos muitos caracóis
O foie gras é bom no pão
Com boas pernas de rã
E com Champanhe na mão!

(Turma do 4.º ano da Secção Portuguesa do Liceu Internacional, França, 5 de Maio de 2010)

Portugal reage com um delicioso prato típico da região do Minho, a “rojoada”, com carne de porco, linguiça, batatas e brotos frescos. Hummmm...

Pois eu digo que a sua mesa
Não é farta como a minha:
Tem aí a “rojoada”
Com os grelos da hortinha.
Mas que bela refeição
Preparada na cozinha!

(turma E do 6.º ano da Escola E. B. 2, 3 Dr. Carlos Pinto Ferreira, Junqueira, Vila do Conde, 7 de Maio de 2010)

Os brasileiros de Cataguases, Minas Gerais, exaltam sua rica culinária regional. O frango com quiabo é uma das marcas registradas desta parte do Brasil e o angu (polenta) traz o milho até a mesa dos mineiros. Claro que não poderia faltar o tradicional doce de goiaba com queijo, sobremesa também chamada de “Romeu e Julieta”:

Minha mesa é bem mais farta
Do que a sua, meu irmão:
Temos frango com quiabo,
Com gostoso angu e feijão
Goiabada com um bom queijo,
É douçura de montão!

(Turma do 4.º ano da Escola Guido Marlière, Cataguases, Minas Gerais, Brasil, 10 de Maio de 2010)

E a última estrofe do torneio nos chega da França. Já estão cantando vitória, mas... Afinal, quem será mesmo o vencedor?

Pois eu digo que a sua mesa
Não é farta como a minha:
Os do 6° a ganhar
Com cordon bleu na boquinha
O macarron vem depois
Duma quiche redondinha

(Turma do 6.º ano da Secção Portuguesa do Liceu Internacional, França, 12 de Maio de 2010)

Amigos, foi difícil escolher o vencedor. O torneio foi muito equilibrado e, mais do que uma disputa, fizemos um passeio gastronômico por três países de ricas tradições culinárias. E, o mais bonito, fizemos isto em forma de versos, numa tradição que veio da Europa, chegou ao Brasil e agora retorna ao velho continente. Vamos, pois, ouvir os versos de despedida do violeiro Fábio Sombra:

Meus amigos, trovadores,
Fábio Sombra vai falar:
Quero agradecer a todos
Por este espetacular
Duelo cantado em rimas
Que ao final vemos chegar.

Três países competindo
Brasil, França e Portugal
Três países e uma língua
Num torneio original
De uma tradição antiga
E de origem medieval.

O assunto era comida,
Alimentos, comilança,
Iguarias portuguesas
Competindo com as de França
E com pratos brasileiros
Se juntando a esta dança.

Vencedores não tivemos
Pois todos merecem a glória
Três países de poetas
Igualados na vitória
Unidos pela poesia
Trovando e fazendo história!

14 maio 2010

Rebuliço Cultural

Em Alta Floresta/MT vai acontecer uma verdadeira efervescência artística e cultural no período de 21 a 23 de maio, em diversos pontos da Praça da Cultura, onde está situado o Centro Cultural e de Eventos e o avião Douglas DC-3, primeira conquista como Patrimônio Histórico-Cultural do Município.

Cerca de 70 (setenta) artistas com suas respectivas obras, das mais variadas modalidades de produções e manifestações artístico-culturais (teatro, dança, música, audiovisual, artesanato, artes plásticas, literatura, produtos gastronômicos regionais etc), que residem nos municípios que fazem parte da região denominada Portal da Amazônia (extremo norte de Mato Grosso) se juntarão aos produtores e artistas alta-florestenses, promovendo um grande mutirão de Arte e Cultura para a apreciação e participação de toda a população. O evento pretende, além das apresentações artísticas, mostra e feira de artes integradas, formar público consumidor de arte e estimular a compreensão da diversidade cultural da região.

A produção e organização do Rebuliço Cultural conta com o patrocínio principal do governo do Estado de Mato Grosso, com recursos do Fundo Estadual de Fomento à Cultura, cujo projeto foi aprovado pelo Conselho Estadual de Cultura. Para potencializar todas as ações e engrandecer ainda mais o evento, a proponência do projeto e todos os envolvidos diretamente na organização contam com o apoio da Prefeitura Municipal, através da Secretaria Municipal de Cultura e Juventude e estão articulando outros apoiadores e parceiros para que a estrutura do evento seja a melhor possível.

Num momento da história do país em que se discute e é buscada uma compreensão mais aprofundada sobre a diversidade cultural brasileira, o Rebuliço Cultural no norte mato-grossense vem, oportunamente, também contribuir com este processo, de sorte que a produção cultural, além de estar numa grande vitrine e espécie de diagnóstico das habilidades artísticas materializadas, promoverá um interessante diálogo entre pessoas de várias localidades com a comunidade que será envolvida nas atividades, atrações e visitações aos locais do evento.

12 maio 2010

Vale dos dinossauros - Sousa PB


Localizado na cidade de Sousa, sertão da Paraíba, O Vale dos Dinossauros é um sítio arqueológico onde são visíveis e registradas as pegadas de mais de 50 espécies diferentes de dinossauros. Foi aí, em 1898, que o agricultor Anísio Fausto da Silva viu, pela primeira vez, umas pegadas estranhas: algumas eram semelhantes às de uma ave e outras redondas. Por isso, Anísio as batizou de “rastros de boi e ema”. Na década de 1920, Luciano Jocques de Morais, um engenheiro de minas que trabalhava para a Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (IFOCS), também descobriu novas pegadas na região. Ele, inclusive, enviou para os Estados Unidos um molde de uma pegada, para ser estudada por paleontólogos, pois suspeitava que se tratava de pegada de dinossauro.

Veja mais fotos do Vale dos dinossauros

Esse fato foi registrado no terceiro volume de sua obra “Serras e Montanhas do Nordeste”. Mas somente na década de 1970 elas foram estudadas detalhadamente. O pioneiro foi o padre e paleontólogo Giuseppe Leonardi Vieira, que publicou um estudo iconológico em que afirmava que aqueles rastros eram provavelmente de dinossauros. O local já foi coberto por uma grande bacia fluvial e habitados por animais de diferentes espécies, como o Tiranossauro Rex, Alossauros, Estegossauros, Iguanodontes, etc.

O Rio do Peixe, que corta a região, teve seu curso desviado para preservar as pegadas, que eram cobertas pelas águas no período das chuvas. Em nenhum outro local do mundo há um número tão grande de trilhas feitas por tantos animais pré-históricos diferentes. Diariamente, dezenas de turistas visitam o sítio, a maioria paleontológicos e cientistas de diversos países, como França, Itália, Índia, etc. Para preservação do local foram construídas passarelas que dão ao turista uma visão melhor do parque arqueológico. Também foram instalados quiosques de apoio.

Dentro desse Vale, foi construído o Museu do Dinossauro, onde constam éplicas de dinossauros e quadros que ajudam a contar a história desses animais, que por ali viveram ou passaram há milhões de anos.

11 maio 2010

Entrevista e vídeos com Oliveira de Panelas

Oliveira de Panelas é sem dúvidas um dos maiores poetas/repentistas de nosso país. Como grande incentivador e divulgador da cultura popular nordestina, o poeta dedicou sua carreira a valorização do cordel como um símbolo de resistência e arte aos costumes de nossa gente.

No vídeo abaixo, uma entrevista ao Programa Diversidade.


06 maio 2010

Jessier Quirino - Problema Cardíuco

Uma coisa que não existe no sertão é o tal do stress. O sertão é mais tranquilo que Nossa Senhora rezando, balançando os pés numa nuvem. É isso que o poeta Jessier Quirino retrata neste conto:

03 maio 2010

A festa do Boi Bumbá


A festa do Boi Bumbá
(Guibson Medeiros)

Seguindo o ritual
No seio de uma floresta
Surgiu a mais linda festa
Do cenário nacional
Começou o festival
Ao som da batucada
O ecoar da marujada
Faz a galera cantar
Bandeiras se agitam no ar
Os bumbas vão se aquecendo
Isso é mesmo que ta vendo
A festa do boi bumbá.

O povo ta dividido
Entre o vermelho e o azul
Seja do norte ou do sul
Tem que escolher o mais querido
Caprichoso ou Garantido
Quem vencerá essa guerra
No maior folclore da terra
Apenas um vencerá
E no ano que virá
Eu vou continuar torcendo
Isso é mesmo que ta vendo
A festa do boi bumbá

O sabor da caldeirada
O tacacá e o tucupi
O suco de açai
E o beijo da namorada
Uma ilha toda encantada
Cheia de amor e carinho
De um povo ribeirinho
Que leva a vida a pescar
A palafita é o seu lar
E feliz está vivendo
Isso é mesmo que ta vendo
A festa do boi bumbá

Pai Francisco e mãe Caterina
O mais belo par folclórico
O amor virou estórico
Mas começou na surdina
A paixão mais cristalina
Conta a estória como foi
E o nascimento do boi
É algo espetacular
Em junho vou festejar
Com o bumbódromo fervendo
Isso é mesmo que ta vendo
A festa do boi bumbá

Ao ouvir o som da toada
Mãos atiradas pra cima
O amo fazendo rima
Na batida ritimada
No clarão da alvorada
O garantido entra em cena
Pra delírio da arena
O azul vai se calar
Cunhãporanga vai desfilar
E o contrario se mordendo
Isso é mesmo que ta vendo
A festa do boi bumbá

O canto do uirapuru
A arte nobre do jair
As curas do seu waldir
E o gigante pirarucu
A coca-cola é azul
Neste mês maravilhoso
Um são joão tão caprichoso
No reino tupinambá
O boto vai encantar
A cabocla se convencendo
Isso é mesmo que ta vendo
A festa do boi bumbá

Quanto barco chegando
E ancorando na ilha
A oitava maravilha
Já esta se apresentando
Os tambores estão rufando
Os bumbas estão na arena
A mais bela morena
Trouxe a dança pra ensinar
Dois pra lá e dois pra cá
O povo de fora aprendendo
Isso é mesmo que ta vendo
A festa do boi bumbá

As correntezas do rio
Um tracajá um jacaré
Um jaraqui no igarapé
Uma capivara no cio
Uma canoa que partiu
Pra buscar o seu alimento
Caça e pesca é o seu sustento
O idioma é Andirá
O tambor já vai tocar
E a estória revivendo
Isso é mesmo que ta vendo
A festa do boi bumbá

Neste norte distante
Um ar úmido e quente
Nasceu essa gente
De ar ofegante
Um rio tão gigante
Que corre ligeiro
É sempre o primeiro
A chegar no mar
Quem não vem pra cá
Não sabe o que está perdendo
Isso é mesmo que ta vendo
A festa do boi bumbá

A sinhazinha da fazenda
A cobra grande o boi tatá
A ilha vai balançar
O povo faz oferenda
Tanta estória quanta lenda
Tanto sonho entre amores
O brilho de duas cores
Duas torcidas a delirar
Uma vai comemorar
A outra vai ficar sofrendo
Isso é mesmo que ta vendo
A festa do boi bumbá

A fumaça na churrasqueira
O cheirinho de peixe assado
Um tacacá reforçado
E uma pinga de primeira
Um bebo com uma bandeira
O palco já sendo armado
Os barcos tudo atracado
Fazendo a queima no ar
A festa vai começar
E o povo se espremendo
Isso é mesmo que ta vendo
A festa do boi bumbá

Tem maniçoba e farinha
Tucumã,cupuaçu
Tambaqui,pirarucu
No reino da sinhazinha
Tem boi brigando na rinha
E a pimenta do tucupi
Se é viana é seu waldir
Se tem pó é guaraná
Se tem cuia é tacacá
Pra forças ir renascendo
Isso é mesmo que ta vendo
A festa do boi bumbá

A tarde vem caindo
E a noite vai chegando
O povo se preparando
Que o boi já esta saindo
Nas batidas vão ouvindo
O chamando do tambor
Na floresta o clamor
Da tribo kashinawa
É hora de guerriar
E o curumim já sai correndo
Isso é mesmo que ta vendo
A festa do boi bumbá

Lá vem um barco gaiola
Com um monte de rede armada
Tocando o som da toada
E uma cuiatain que rebola
Um xarango na sacola
Esperando o grande dia
Gringo tirando fotografia
Encantado com o rio mar
Parintins vai se enfeitar
Que o sol já vem nascendo
Isso é mesmo que ta vendo
A festa do boi bumbá

Quando a luz se apagou
O boi voltou pro QueGê
O tripa se pode vê
E o barco já navegou
No peito de quem ficou
A saudade de quem partiu
E a maior festa do Brasil
Agora vai descansar
Mas no ano que virá
A ilha vai ta tremendo
Isso é mesmo que ta vendo
A festa do boi bumbá