Em março de 2010, demos início ao I Desafio internacional Um, dois, três, Rimando em Português. Nele tomaram parte jovens de três países: Portugal, Brasil e França, que falam e escrevem em língua portuguesa. Estes alunos participam de um projeto de produção colaborativa de textos através da internet chamado Vôos em Língua Portuguesa .
É com grande orgulho que hoje publicamos os versos e o resultado da competição. A primeira vista os números impressionam, já que, usando tecnologias acessíveis a qualquer escola, conseguimos envolver:
3 países (Portugal, França e Brasil).
2 continentes.
3 escolas.
6 turmas.
125 alunos participantes.
Que produziram:
18 estrofes
108 versos
756 sílabas poéticas.
OS COORDENADORES
O projeto foi idealizado por Fábio Sombra, autor brasileiro de livros infanto-juvenis e pela professora portuguesa Emília Miranda, responsável pelo blog Voos em LP, hospedado pela Universidade do Minho. Emília foi também a coordenadora do trabalho realizado pelos alunos da Escola Dr. Carlos Pinto Ferreira, de Vila do Conde, Portugal.
Em seguida, passamos a contar com o entusiasmo e a dedicação de mais duas professoras: a Isabel da Costa, da Seção Portuguesa do Lycée international de Saint-Germain-en-Laye, na França e da professora Andrea Toledo, que coordenou o trabalho dos alunos da Escola Guido Marlière em Cataguases, Minas Gerais, Brasil.
O TORNEIO TOMA FORMA
O objetivo do projeto foi criar um desafio em versos rimados, no estilo das pelejas que encontramos na Literatura de Cordel. Os alunos das três escolas estavam lendo e trabalhando em sala de aula com um livro do autor Fábio Sombra: A peleja do violeiro Magrilim com a formosa princesa Jezebel e foi através desta obra que os alunos foram apresentados a um desafio em versos entre os personagens principais.
Para dar início ao torneio entre as escolas escolhemos inicialmente o meio de comunicação: a peleja seria realizada através da internet, por meio de e-mails trocados entre os participantes. A seguir definimos as regras da disputa e o formato das intervenções de cada participante: estrofes de seis versos, com sete sílabas poéticas em cada um deles. Sorteamos a ordem em que as escolas participariam e, finalmente, o tema da disputa: COMIDA. Assim, cada um dos países poderia exaltar e falar de seus pratos típicos e de suas culinárias nacionais ou regionais. Esta escolha se mostrou bastante apropriada e, como veremos a seguir, fomos brindados com uma verdadeira viagem gastronômica.
O último detalhe foram os motes, criados por Fábio Sombra, para que os alunos se guiassem na escolha das rimas e da métrica da disputa. O primeiro deles, com a rima em “ão” e o segundo com a rima em “inha”:
“Minha mesa é bem mais farta
Do que a sua, meu irmão.”
Já o mote-resposta, com rimas em "inha" foi:
Pois eu digo que sua mesa
Não é farta como a minha:
INICIAM-SE OS TRABALHOS
Ao longo de quase dois meses, os alunos se empenharam e os e-mails cruzaram o Oceano Atlântico com um entusiasmo nunca visto. Antes de inserirem suas estrofes no quadro oficial do torneio, os alunos enviavam seus versos ao autor Fábio Sombra, que sugeria pequenos ajustes ou tirava dúvidas sobre a métrica apropriada dos versos. Este trabalho foi muito importante para que, ao final, todas as estrofes pudessem ser cantadas com o acompanhamento de instrumentos musicais.
LEIA AQUI O TORNEIO NA ÍNTEGRA!
Fábio Sombra iniciou o torneio com duas estrofes, somente para dar aos participantes um exemplo real para que estes compusessem seus próprios versos. Notem a presença do mote em em cada uma delas:
Minha mesa é bem mais farta
Do que a sua, meu irmão:
Nela tenho carne e leite
Azeitonas, macarrão
Tenho uvas, chocolate,
E uma torta de limão.
Pois eu digo que sua mesa
Não é farta como a minha:
Pois na minha tenho doces
Ovos, queijos e galinha
Tenho sopa de legumes
Bom azeite e até sardinha.
Os alunos de Portugal dão início a peleja exaltando a rica culinária lusitana:
Minha mesa é bem mais farta
Do que a sua, meu irmão:
Tem um belo bacalhau
Cozido no caldeirão
Bem regado com azeite
E um bom vinho da região.
(turma E do 6.º ano da Escola E. B. 2, 3 Dr. Carlos Pinto Ferreira, Junqueira, Vila do Conde, 24 de Março de 2010)
Os brasileiros não deixam por menos e mencionam a diversidade da culinária de um país com dimensões continentais:
Pois eu digo que a sua mesa
Não é farta como a minha:
Da Amazônia tropical
Até o Sul da minha terrinha
A fartura é tão variada
Que você nem adivinha
(Turma do 4.º ano da Escola Guido Marlière, Cataguases, Minas Gerais, Brasil, 27 de Março de 2010)
Eis que então os alunos da França entram na disputa como representantes de um país que trata a culinária como um orgulho nacional. E começa o desfile de queijos, pães e vinhoscelebrados e conhecidos internacionalmente:
Minha mesa é bem mais farta
Do que a sua, meu irmão:
E com a nossa raclette
E uma baguete na mão
E um bom vinho de Bordéus
Ninguém passa à frente, não!
(turma do 8º ano da Secção Portuguesa do LI/França, 2 de Abril de 2010)
Os de Portugal reagem com bravura. E não se intimidam com a tradição francesa e nem com a fartura brasileira. A “francesinha” a que se referem é um suculento sanduíche, muito apreciado na região do Porto:
Pois eu digo que a sua mesa
Não é farta como a minha:
Se no Brasil há fartura
Em Portugal há canjinha
E se em França tem raclette
Nós temos a “francesinha”!
(turma E do 6.º ano da Escola E. B. 2, 3 Dr. Carlos Pinto Ferreira, Junqueira, Vila do Conde, 12 de Abril de 2010)
Chega a vez dos brasileiros, muito orgulhosos da sua tradicional feijoada, um cozido de feijões pretos, carnes e linguiças e, como não poderia faltar, a famosa cachaça (ou pinga) com limão que sempre acompanha o prato.
Minha mesa é bem mais farta
Do que a sua, meu irmão:
Aqui temos feijoada
E a pinga com limão
Com um molho de tomate
Está feito o macarrão
(Turma do 4.º ano da Escola Guido Marlière, Cataguases, Minas Gerais, Brasil, 14 de Abril de 2010)
Quando o assunto se vira para a área dos queijos, aí, realmente ninguém consegue competir com os da França. Aqui, brasileiros e portugueses abaixam a cabeça e é a França quem leva a melhor:
Pois eu digo que a sua mesa
Não é farta como a minha:
Aqui há queijo à vontade,
Roquefort na barriguinha,
Camembert, Beaufort et Bleu
Nunca sem boa pinguinha!
(Turma do 7° ano da Secção Portuguesa do Liceu Internacional, França, 16 de Abril de 2010)
Mas Portugal se recupera e reage com bravura. É difícil não ouvir falar em leitão com laranja sem que nos venha aquela aguinha à boca... E ainda mais com melão de sobremesa...
Minha mesa é bem mais farta
Do que a sua, meu irmão:
Como prato especial,
Apresentamos leitão
Com laranja acompanhado.
E por fim, um bom melão!
(turma E do 6.º ano da Escola E. B. 2, 3 Dr. Carlos Pinto Ferreira, Junqueira, Vila do Conde, 19 de Abril de 2010)
E retornam os brasileiros, imbatíveis quando o assunto cai no tema dos sucos de frutas. A coxinha de frango é uma fritura muito popular por aqui e está sempre presente em festas e ocasões festivas. Não são nem um pouco “diet”, mas que são deliciosas, ah, isto são...
Pois eu digo que a sua mesa
Não é farta como a minha:
Temos suco de morango
E no prato uma coxinha
Pra fartura ser completa
Nós tomamos uma sopinha
(Turma do 4.º ano da Escola Guido Marlière, Cataguases, Minas Gerais, Brasil, 21 de Abril de 2010)
Escargots, patês, pernas de rã e champagne... Em matéria de refinamento esses franceses são mesmo insuperáveis... Vejam só o que trouxeram para a nossa peleja:
Minha mesa é bem mais farta
Do que a sua, meu irmão:
Temos muitos caracóis
O foie gras é bom no pão
Com boas pernas de rã
E com Champanhe na mão!
(Turma do 4.º ano da Secção Portuguesa do Liceu Internacional, França, 5 de Maio de 2010)
Portugal reage com um delicioso prato típico da região do Minho, a “rojoada”, com carne de porco, linguiça, batatas e brotos frescos. Hummmm...
Pois eu digo que a sua mesa
Não é farta como a minha:
Tem aí a “rojoada”
Com os grelos da hortinha.
Mas que bela refeição
Preparada na cozinha!
(turma E do 6.º ano da Escola E. B. 2, 3 Dr. Carlos Pinto Ferreira, Junqueira, Vila do Conde, 7 de Maio de 2010)
Os brasileiros de Cataguases, Minas Gerais, exaltam sua rica culinária regional. O frango com quiabo é uma das marcas registradas desta parte do Brasil e o angu (polenta) traz o milho até a mesa dos mineiros. Claro que não poderia faltar o tradicional doce de goiaba com queijo, sobremesa também chamada de “Romeu e Julieta”:
Minha mesa é bem mais farta
Do que a sua, meu irmão:
Temos frango com quiabo,
Com gostoso angu e feijão
Goiabada com um bom queijo,
É douçura de montão!
(Turma do 4.º ano da Escola Guido Marlière, Cataguases, Minas Gerais, Brasil, 10 de Maio de 2010)
E a última estrofe do torneio nos chega da França. Já estão cantando vitória, mas... Afinal, quem será mesmo o vencedor?
Pois eu digo que a sua mesa
Não é farta como a minha:
Os do 6° a ganhar
Com cordon bleu na boquinha
O macarron vem depois
Duma quiche redondinha
(Turma do 6.º ano da Secção Portuguesa do Liceu Internacional, França, 12 de Maio de 2010)
Amigos, foi difícil escolher o vencedor. O torneio foi muito equilibrado e, mais do que uma disputa, fizemos um passeio gastronômico por três países de ricas tradições culinárias. E, o mais bonito, fizemos isto em forma de versos, numa tradição que veio da Europa, chegou ao Brasil e agora retorna ao velho continente. Vamos, pois, ouvir os versos de despedida do violeiro Fábio Sombra:
Meus amigos, trovadores,
Fábio Sombra vai falar:
Quero agradecer a todos
Por este espetacular
Duelo cantado em rimas
Que ao final vemos chegar.
Três países competindo
Brasil, França e Portugal
Três países e uma língua
Num torneio original
De uma tradição antiga
E de origem medieval.
O assunto era comida,
Alimentos, comilança,
Iguarias portuguesas
Competindo com as de França
E com pratos brasileiros
Se juntando a esta dança.
Vencedores não tivemos
Pois todos merecem a glória
Três países de poetas
Igualados na vitória
Unidos pela poesia
Trovando e fazendo história!
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