25 novembro 2008

Escravos de Jó jogavam caxangá?

A cantiga popular todo mundo conhece:

"Escravos de Jó, jogavam caxangá

Tira, bota, deixa o Zé Pereira ficar...

Guerreiros com guerreiros fazem zigue zigue zá

Guerreiros com guerreiros fazem zigue zigue zá...
"

Mas você sabe quem era Jó? Por que ele tinha escravos? Que jogo caxangá é esse?

Jó é um personagem bíblico do antigo testamento que possuía uma grande paciência. Dai a expressão "Paciência de Jó". Segundo a Bíblia, Deus apostou com o Diabo que Jó, mesmo perdendo as coisas mais preciosas que possuía (filhos e fortuna) não perderia a fé.

Nada indica que Jó tinha escravos e muito menos que jogavam o tal caxangá. Acredita-se que a cultura negra tenha se apropriado da figura para simbolizar o homem rico da cantiga de roda. Os guerreiros que faziam o zigue zigue zá, seriam os escravos fugitivos que corriam em ziguezague para despistar o capitão-do-mato.

O mais difícil de entender é o que seria o caxangá. Segundo o dicionário Tupi-Guarani-Português, a palavra vem de caá-çangá, que significa "mata extensa". Para o Dicionário do Folclore Brasileiro, é um adereço muito usado pela mulheres do estado de Alagoas. A verdade é que a cantiga vem sofrendo e ainda sofre modificações em seus versos de estado para estado. Afinal de contas, o correto seria deixarmos o Zambelê ou o Zé Pereira ficar?

24 novembro 2008

Dicionário Nordestino


Depois de muitos pedidos e diversos emails solicitando, finalmente publico o artigo sobre o dicionário nordestino. Uma grande variedade de termos e expressões populares típicas de nosso povo.

Se a partir de agora, você, que é uma pessoa afeiçoada, bem aprumada, ficar abilolado ou parecendo um estrupício quando não entender algo, basta espiar no dicionário.

19 novembro 2008

Dysmeniélisson Jerry: veja os nomes de pessoas mais bizarros do Brasil


"Seria trágico se não fosse cômico". Nomes próprios constrangedores como esse do título, citado pelo poeta Jessier Quirino no poema "A Diz Puta Eleitoral", é mais comum do que parece no Brasil. No Nordeste então, vigi! Nem se fala. Não sei se é muita criatividade ou a falta completa dela. O assunto já foi tema de diversas reportagens na TV. Lembro de uma que passou no Fantástico (Globo), com as irmãs: Xérox, fotocópia e Autenticada. Esse deve ser uma dos casos mais conhecidos do país.

Para que as irmãs copiadoras não se sintam tão constrangidas, vou publicar aqui uma lista de nomes curiosos.

Veja curiosidades sobre nomes próprios


A
Abrilina Décima Nona Caçapavana Piratininga de Almeida
Acheropita Papazone
Adalgamir Marge
Adegesto Pataca
Adoração Arabites
Aeronauta Barata
Agrícola Beterraba Areia
Agrícola da Terra Fonseca
Alce Barbuda
Aldegunda Carames More
Aleluia Sarango
Alfredo Prazeirozo Texugueiro
Alma de Vera
Amado Amoroso
Amável Pinto
Amazonas Rio do Brasil Pimpão
América do Sul Brasil de Santana
Amin Amou Amado
Amor de Deus Rosales Brasil (feminino)
Anatalino Reguete
Antônio Americano do Brasil Mineiro
Antonio Buceta Agudim
Antonio Camisão
Antonio Dodói
Antonio Manso Pacífico de Oliveira Sossegado
Antonio Melhorança
Antônio Morrendo das Dores
Antonio Noites e Dias
Antônio P. Testa
Antonio Pechincha
Antônio Querido Fracasso
Antonio Treze de Junho de Mil Novecentos e Dezessete
Antônio Veado Prematuro
Apurinã da Floresta Brasileira
Araci do Precioso Sangue
Argentino Argenta
Aricléia Café Chá
Armando Nascimento de Jesus
Arquiteclínio Petrocoquínio de Andrade
Asteróide Silverio
Abelárbio Alves Cabral
Adão Preto
Agnus Dei Delgado
Alrirwertom Wescrelteniz Phissihoua
Amor Lauretti Costa
Anco Márcio
Anifelice Da Silva
Antônio Bonito
Antônio Cambraia
Antônio Padre
Antônio Pica Terreno
Antônio Varandas
Arágua Santos Silva
Araguázia Bernedício
Aritá Amaral
Arnaldo Bispo De Jesus Filho
Arx Tourinho
Asclepíades Garcia Pinheiro
Asfilófio De Oliveira Filho
Augêncio Soares


B
Bananéia Oliveira de Deus
Bandeirante do Brasil Paulistano
Barrigudinha Seleida
Bende Sande Branquinho Maracajá
Benedito Autor da Purificação
Benedito Camurça Aveludado
Benedito Frôscolo Jovino de Almeida Aimbaré Militão de Souza
Baruel de Itaparica Boré Fomi de Tucunduvá
Benigna Jarra
Benvindo Viola
Bispo de Paris
Bizarro Assada
Boaventura Torrada
Bom Filho Persegonha
Brandamente Brasil
Brasil Washington C. A. Júnior
Brígida de Samora Mora
Belderagas Piruégas de
Bucetildes (chamada, pelos familiares, de Dona Tide)
Benoby Holanda Cavalcanti
Bestilde Mota Medeiros
Beyde Holanda Cavalcanti


C
Cafiaspirina Cruz
Capote Valente e Marimbondo da Trindade
Caius Marcius Africanus
Carabino Tiro Certo
Carlos Alberto Santíssimo Sacramento
Cantinho da Vila Alencar da Corte Real Sampaio
Carneiro de Souza e Faro
Caso Raro Yamada
Céu Azul do Sol Poente
Chananeco Vargas da Silva
Chevrolet da Silva Ford
Cincero do Nascimento
Cinconegue Washington Matos
Clarisbadeu Braz da Silva
Colapso Cardíaco da Silva
Comigo é Nove na Garrucha Trouxada
Confessoura Dornelles
Crisoprasso Compasso
Carlos Pães Landim
Catupyan Holanda Cavalcanti
Cristina Ministério
Cristovão Brilho


D
Danúbio Tarada Duarte
Darcília Abraços
Carvalho Santinho
Deus Magda Silva
Deus É Infinitamente Misericordioso
Deusarina Venus de Milo
Dezêncio Feverêncio de Oitenta e Cinco
Dignatario da Ordem Imperial do Cruzeiro
Dilke de La Roque Pinho
Disney Chaplin Milhomem de Souza
Dolores Fuertes de Barriga
Dosolina Piroca Tazinasso
Drágica Broko
Darquibaldo Guilherme
Dalmontino São Cristóvão De Castro
Deoscoredes Maximiano Dos Santos
Deus Dante
Durvatério Antônio Campos


E
Edi Madalena Fracasso
Edsoleda Santos
Elquisson De Almeida Machado
Ênio Formigão
Erisônia Bispo De Oliveira
Evangivaldo Figueiredo
Ernesto Segundo da Família Lima
Esdras Esdron Eustaquio Obirapitanga
Esparadrapo Clemente de Sá
Espere em Deus Mateus
Estácio Ponta Fina Amolador
Éter Sulfúrico Amazonino Rios (socorro...)
Excelsa Teresinha do Menino Jesus da Costa e Silva


F
Faraó do Egito Sousa
Fedir Lenho
Felicidade do Lar Brasileiro
Finólila Piaubilina
Flávio Cavalcante Rei da Televisão
Francisco Notório Milhão
Francisco Zebedeu Sanguessuga
Francisoreia Doroteia Dorida
Fridundino Eulâmpio
Fátima Barroca
Filogônio Farias
Filonila Regueira
Flávio Fava De Moraes
Flor Do Socorro Moura
Franklinberg Ribeiro De Freitas


G
Gigle Catabriga
Graciosa Rodela D'alho
Geraldo Do Sol
Gilenildo Cobra
Glécia Genyany De Souza


H
Heubler Janot
Hidráulico Oliveira
Himineu Casamenticio das Dores Conjugais
Holofontina Fufucas
Homem Bom da Cunha Souto Maior
Horinando Pedroso Ramos
Hugo Madeira de Lei Aroeiro
Hypotenusa Pereira
Heliogábalo Pinto Coelho
Hidemburgo Bilro Da Costa


I
Ilegível Inilegível
Inocêncio Coitadinho
Isabel Defensora de Jesus
Izabel Rainha de Portugal
Íngledesd Além Mek Maia Duarte
Izuperiu Joaquim Pereira


J
Janeiro Fevereiro de Março Abril
João Bispo de Roma
João Cara de José
João Cólica
João da Mesma Data
João de Deus Fundador do Colto
João Meias de Golveias
João Pensa Bem
João Sem Sobrenome
Joaquim Pinto Molhadinho
José Amâncio e Seus Trinta e Nove
José Casou de Calças Curtas
José Catarrinho
José Machuca
José Maria Guardanapo
José Padre Nosso
José Teodoro Pinto Tapado
José Xixi
Jovelina Ó Rosa Cheirosa
Jotacá Dois Mil e Um Juana Mula
Júlio Santos Pé-Curto
Justiça Maria de Jesus
Janovy Holanda Cavalcanti
Jardivaldo Batista
Jeisyslainy De Paula Oliveira
Jersuleta De Aguiar Roriz
Jesus De Nazareno Feio
João De Deus Paixão
Joaquim Manhoso Neto
Jonex Tupiranan Almeida
Jorge Lhe Mulher
Jorge Onça
José Antônio Buscatel Canhão
José Aparecido De Oliveira
José Carlos Brabo
José Da Nova Bahia
José Fernandes Camisa Nova
José Menino De Miranda
José Ricardo Pinto Amém
José S. Xaxá
Joseph Merda, O Pai Americano De Fred
Juaneysson José De Lima E Silva
Jurcy Querido Vieira


L
Lança Perfume Rodometálico de Andrade
Leão Rolando Pedreira
Leda Prazeres Amante
Letsgo Daqui (let's go)
Liberdade Igualdade
Libertino Africano Nobre
Lindulfo Celidonio Calafange de Tefé
Lynildes Carapunfada Dores Fígado
Lírio Mário Da Costa
Luiz Carlos Fortes Bustamante Dá
Luiz Paizinho Dantas
Lyndon Johnson De Sousa


M
Magnésia Bisurada do Patrocínio
Manganês Manganésfero Nacional
Manolo Porras y Porras
Manoel de Hora Pontual
Manoel Sovaco de Gambar
Manuel Sola de Sá Pato
Manuelina Terebentina
Marciano Verdinho das Antenas Longas
Maria Constança Dores Pança
Maria Cristina do Pinto
Magro Maria da Cruz Rachadinho
Maria da Segunda Distração
Maria de Seu Pereira
Maria Felicidade
Maria Humilde
Maria Máquina
Maria Panela
Maria Passa Cantando
Maria Privada de Jesus
Maria Tributina Prostituta Cataerva
Maria-você-me-mata
Mário de Seu Pereira
Meirelaz Assunção
Mijardina Pinto
Mimaré Índio Brazileiro de Campos
Ministéio Salgado
Manuel Caridade
Marco Caneca
Marcos Dá Ré
Marcos Dos Mares Guia
Maria Clécia Pessoa Bobo
Maria Das Graças Gatinho
Maria Divina Vitória
Maria Do Céu Ferreira
Maria Eugênia Longo Cabelo Campos
Maria Santíssima Morais Serafim
Mariolino Moreno Vivas, De Salvador
Miguel Arcanjo Dos Anjos


N
Naida Navinda Navolta Pereira
Napoleão Estado do Pernambuco
Napoleão Sem Medo e Sem Mácula
Natal Carnaval
Natanael Gosmoguete de Souza
Necrotério Pereira da Silva
Novelo Fedelo
Nevoeiro Jr
Nostradamus Brasileiro Do Acre


O
Oceano Atlântico Linhares
Olinda Barba de Jesus
Orlando Modesto Pinto
Orquerio Cassapietra
Otávio Bundasseca
Obadias De Deus
Oceana Margarida De Oliveira
Otávio Bundasseca
Ofbalwer Lourenço Da Silva
Ogvalda Devay De Souza Torres


P
Pacífico Armando Guerra
Padre Filho do Espírito Santo Amém
Pália Pélia Pólia Púlia dos Guimarães Peixoto
Paranahyba Pirapitinga Santana
Penha Pedrinha Bonitinha da Silva
Percilina Pretextata
Predileta Protestante
Peta Perpétua de Ceceta
Placenta Maricórnia da Letra Pi
Plácido e Seus Companheiros
Pombinha Guerreira Martins
Primeira Delícia Figueiredo Azevedo
Primavera Verão Outono Inverno
Produto do Amor Conjugal de Marichá e Maribel
Protestado Felix Correa
Parsifal Martins Guabiraba
Páscoa Gluvênia De Souza
Pauderney Avelino
Paulo São Pedro De Jesus
Pedro Álvares Cabral Guerreiro
Pinga-Fogo De Oliveira
Plautila De Aragão Ferreira
Plotino Ladeira Da Mata
Primitiva Gomes Do Sacramento
Princesa Magalhães


R
Radigunda Cercená Vicensi
Remédio Amargo
Renato Pordeus Furtado
Ressurgente Monte Santos
Restos Mortais de Catarina
Rita Marciana Arrotéia
Rocambole Simionato
Rolando Caio da Rocha
Rolando Escadabaixo
Rômulo Reme Remido Rodó
Ramayana Tapioca Pombo
Renato Felicíssimo
Reudenita De Araújo Barbosa Lima
Reutuyta Araújo Lacerda
Reuvanita Soares De Araújo Pereira
Reuzelita De Araújo Guimarães
Reuzuyta Maria De Araújo
Ricardo Legítimo Barbosa
Ricardo Semente
Róseo Leite
Rui Feijão


S
Safira Azul Esverdeada
Sansão Vagina
Sebastião Salgado Doce
Segundo Avelino Peito
Sete Chagas de Jesus e Salve Pátria
Simplício Simplório da Simplicidade Simples
Soraiadite das Duas a Primeira
Salamandra Savana Souza Silvestre
Sâmara Salema
Seltzer Rodrigo Sarro
Sepúlveda Pertence
Sigmaringa Seixas
Silêncio Fernandes Da Silva
Sílvia Cavadinha
Simplício J0rge Pulgas


T
Telesforo VerasTropicão de Almeida
Tereza Guiomhes De La France Phissihoua
Tom Mix Alves Da Costa


U
Última Delícia do Casal Carvalho
Último Vaqueiro
Um Dois Três de Oliveira Quatro
Um Mesmo de Almeida
Universo Cândido


V
Valdir Tirado Grosso
Veneza Americana do Recife
Vicente Mais ou Menos de Souza
Vitória Carne e Osso
Vitimado José de Araújo
Vitor Hugo Tocagaita
Vivelinda Cabrita
Voltaire Rebelado de França
Vá Boa Sorte
Vassencrixton Melo Ferreira
Vatotin Almeida
Virgindalha Lopes Da Silva
Virtudes Moreira
Volga Polo Norte Trugueiros
Volnei Garrafa


Y
Yaiala Dos Santos
Yaritan Ribeiro
Yeila Dos Santos
Yoisalva Dos Santos


W
Waldir De Jesus Brabo Waltécio Piranha Washington Dos Santos Quatorze Voltas Whygna Dibna Galdino Da Silva Whildilleide F. Da Silva Whildilkeller F. Da Silva Willeide F. Da Silva Wanslívia Heitor de Paula


Z
Zélia Tocafundo Pinto

Se souber de algum nome curioso, bizarro ou alguma história sobre o tema, deixe um comentário ou entre em contato.


18 novembro 2008

A Caravana do Oriente


É chegado o mês de dezembro e, enfim, as esperadas férias. Lucila, Carlinhos e Frederico vão passar uns dias na fazenda do tio Juca e mal podem imaginar a noite memorável junto aos músicos de uma folia-de-reis há muito desaparecida que essa viagem lhes reservava.

Agora, o trio fará de tudo para trazer de volta a Caravana do Oriente. Um desejo comum a Rinaldo, um menino pobre, mas de grande coração, que sonha em receber os três Reis Magos em sua humilde casinha de pau-a-pique.

Este é o mote de A Caravana do Oriente – Uma história de folia-de-reis, do premiado escritor, ilustrador e violeiro
Fábio Sombra. Um mergulho na magia do folclore brasileiro em um enredo repleto de poesia e tradições da cultura popular que promete agradar em cheio a garotada.

Adiquira o Livro

Lançamento:
30 de Novembro, às 11:30
Livraria Argumento do Leblon
(21) 2239.5294
Rua Dias Ferreira, 417
Rio de Janeiro


17 novembro 2008

Músicas de Cacai Nunes

Esses vídeos são do parceiro de blog, violeiro, compositor, forrozeiro e produtor Cacai Nunes. Ele se apresentou durante o 2nd Ibero American Guitar Festival que aconteceu em outubro em Washington - DC e disponibilizou essas duas ótimas canções para nós, amantes da cultura.

Magoado




Odeon (Ernesto Nazareth), com Juan Falu da Argentina




Visite o blog Acervo&Origens de Cacai Nunes.

14 novembro 2008

Os repentistas de Portugal

 

Recebi um material muito interessante do compadre Norton e resolvi compartilhar com vocês. Trata-se de uma legítima “Desgarrada Portuguesa”. A Desgarrada é um estilo cultural praticado pelos amigos patrícios bem parecido com os moldes do Repente que é praticado no nordeste. Vamos entender um pouco as origens dessa manisfestação lusitana.

Os repentistas e as desgarradas, tiveram origem nos trovadores da corte, quando as suas obras começaram a ser absorvidas pelo povo. Nasceu, então, uma classe de trovadores populares que viviam animando festas e romarias com os seus cantares. Davam-lhe um mote e ele compunha, de improviso, quadras quase sempre brejeiras ou com crítica social. Inicialmente, era só um elemento mas a necessidade de encontrar conteúdos, fez com que, em breve, andassem aos pares. Assim, um podia dar ao outro o mote para a próxima quadra.

Daí nasceu a designação de "Desgarrada" ( por ser imprevisível ) e de "cantigas-ao-desafio" ( por ser uma luta de palavras). Com o passar do tempo, esses repentistas também se modernizaram e hoje não se fazem acompanhar só de viola. Se pitou curiosidade de saber como feito o repente em Portugal é só conferir. 




Convite à Desfolhada
(Domínio Popular)

Há dias fui convidado
Para ir a uma desfolhada
Para cantar e dançar
Pôr toda agente animada

Eu, também, fui convidado
Para ir desfolhar as espigas
Muito bem acompanhado) repete
Por bonitas raparigas

Foste convidado, sim,
Disso eu sou testemunha
Lá só havia homens
Mulheres não vi nenhuma

Meu Deus, que grande mentira!
Não sei porque és assim
Estava tudo zangado
Por elas só me quererem a mim

Só por seres mentiroso
Quem mente tem pouca sorte
As mulheres na desfolhada
Eram todas de saiote

Eu até me matava
Ai, se fosse como tu
Eu a desfolhar as espigas
E tu a metê-las no cesto

Estavas bem acompanhado
Mas que rico par, tão belo
De tanto escumares a espiga)repete
Ainda estás amarelo

Da espiga nasce o milho
Do milho se faz farinha
Não queiras experimentar
Uma espiga como a minha

Acabou a desfolhada
Depois de muito cansaço
Terminou a desgarrada
Quero te dar um abraço.
 Eu, também, lhe mando.


Conheça o blog de Arnaldo L. dos Santos Norton

12 novembro 2008

Cabaceiras - A "Roliúde Nordestina"


A cidade de Cabaceiras já está sendo chamada de "Roliúde Nordestina", tendo em vista que já foi cenário natural para diversas produções cinematográficas. Segundo o jornalista Willis Leal, ali já foram realizados 18 filmes brasileiros, aí incluídos curtas e documentários. O primeiro deles foi em 1924, intitulado " Ferração dos Bodes". A lista de filmes incluí "Cinema, Aspirinas e Urubus", "Auto da Compadecida", "São Jerônimo", "Viva São João", "Sob o Sol Nordestino", "Eu sou o Servo" e "Canta Maria", entre outros.
Agora, o mais novo longa metragem do diretor Guel Arraes, denominado "Romance", estréia nas telas de todo o país.

O filme teve parte das filmagens feita no Lajedo de Pai Mateus, ressaltando as belezas do nosso Cariri. "Isso é bom para o turismo, e também para a cultura, ter a Paraíba valorizada em um filme tão importante de um diretor tão renomado como o Guel, em uma produção tão caprichada pela Natasha Filmes de Paula Lavigne, que nem estreou ainda, mas já foi vista no Rio, em São Paulo e até na Itália (o filme integrou a programação do Festival de Cinema de Roma, mês passado)", ressalta Antonio Alcântara, presidente da FUNESC.


Veja o trailler de "Romance"


O município possui uma das mais singulares paisagens de toda a região Nordeste, composta por morros de granito decorados com pequenos lagos e imensos blocos rochosos que formam cavernas de todos os tipos. Inúmeras pessoas vindas de todas as partes estão sendo atraídas para essa região, para conferir o ar misterioso que emana do local. Ali o tempo preservou o misticismo e fez do lugar um refúgio para o sossego. Outro público que também está chegando à região é o de aventureiros e amantes de esportes radicais.


É nessa paisagem que está encravado o Lajedo de Pai Mateus, uma formação geológica existente na Serra dos Caroás, moldada na rocha pela ação erosiva da desagregação mecânica, dos ventos e das chuvas. A origem deste nome é devido a uma lenda local. Segundo os moradores mais antigos da região, ali viveu isolado, ainda no século XIX, e durante muitos anos, um ermitão curandeiro chamado Mateus, que recusava os costumes dos homens civilizados.

Segundo as pessoas místicas, o lugar também transmite muita força boa e muita energia positiva. Pai Mateus soube escolher um bom lugar para fugir da escravidão e exercer com liberdade seu ofício de curar, pois o lugar tem várias plantas medicinais e outros tipos de vegetação que chamam a atenção, pois há plantas e flores que brotam, mesmo com as pedras e com uma quantidade mínima de chuvas.


O filme é estrelado por Wagner Moura, Letícia Sabatella, Andrea Beltrão, José Wilker, Bruno Garcia, Tonico Pereira, Vladimir Brichta, Edmilson Barros e Marco Nanini. "Romance" é inspirado na história de Tristão e Isolda ao contar a história de Pedro (Wagner), diretor e ator de teatro que se apaixona por Ana (Letícia), atriz com quem contracena na peça "Tristão e Isolda".


Tudo isso só vem confirmar e ressaltar as potencialidades do lugar para os fãs da sétima arte. A cidade atrai equipes de produção por seu tempo seco, sem chuvas para atrapalhar as filmagens.

11 novembro 2008

Desmantelos de Zé Limeira


O Poeta do Absurdo numa cantoria com José Alves Sobrinho

Limeira só canta toada bonita
Pra moça da roça, pra moça da rua…
Braúna, chocalho de noite de lua,
Cardeiro enfeitado de laço de fita.
Carroça vestindo camisa de chita,
Novena na casa do Sítio Tauá,
Porteira, cancela, vareda, jucá,
Mutuca, facheiro, vaiado, pagode,
A cabra rodando na pimba do bode,
Cantando galope na beira do má.

Me chamo Limeira, Liminha, Limão,
Muntado a cavalo no mato fechado,
Ciência Regente conheço um bucado;
Carcaça de burro de espora e gibão.
Facheiro, jurema, colada, trovão,
Novilha parida do lado de lá,
A cabra berrando do lado de cá
Com medo do bode da pimba de ponta,
Limeira é quem fala, Limeira é quem conta.
Cantando galope na beira do má.

Não sei onde fica esse tá de oceano,
Nem sei que pagode vem sê esse má…
Eu sei onde fica Teixeira e Tauá,
Que tem meus moleques vestido de pano…
A minha patroa é quem traça meus prano,
Cem culha de milho inda quero prantá,
Farinha, lugume, feijão e jabá,
Com mói de pimenta daquela bem braba,
Valei-me São Pedro, Limeira se acaba,
Cantando galope na beira do má.

06 novembro 2008

O Linguajar Cearense



O Linguajar Cearense
(
Josenir A. de Lacerda)

Todo poeta de fato
É grande observador
Seja da rua ou do mato
Seja leigo ou professor
Faz verdadeira pesquisa
Vasto estudo realiza
Buscando essência e teor

Por esse nato talento
Na hora de versejar
Busca o tema e o momento
Visa o leitor agradar
Não sente conformação
Se não passa a emoção
Que dentro do peito está

Neste cordel-dicionário
Eu pretendo registrar
O rico vocabulário
Da criação popular
No Ceará garimpei
Juntei tudo, compilei
Ao leitor quero ofertar

Se alguém é desligado
É chamado de bocó
Broco, lerdo e abestado
Azuado ou brocoió
Arigó e Zé Mané
Sonso, atruado, bilé
Pomba lesa e zuruó

Artigo novo é zerado
Armadilha é arapuca
O doido é abirobado
Invencionice é infuca
O matuto é mucureba
Qualquer ferida é pereba
Mosquito grande é mutuca

Quem muito agarra, abufela
Briga pequena é arenga
Enganação, esparrela
Toda prostituta é quenga
Rapapé é confusão
De repente é supetão
Insistência é lenga-lenga

Qualquer tramóia é motim
Solteira idosa é titia
Mosquitinho é mucuim
Recipiente é vasia
Meia garrafa é meiota
O exibido é fiota
Travessura é istripulia

Bebeu muito é deodato
Brisa leve é cruviana
O sujeito otário é pato
Cigarro curto é bagana
Fugir é capar o gato
O engraçado é gaiato
Quem vai preso tá em cana

Ter mesmo nome é xarapa
Muito junto é encangado
Água com açúcar é garapa
Cor vermelha é encarnado
Muita coisa dá mêimundo
Sendo Mundim é Raimundo
Valentão é arrochado

A rede velha é fianga
Com raiva é apurrinhado
Careta feia é munganga
Baitinga é o mesmo viado
O bom é só o pitéu
Bajulador, xeleléu
Sem jeito é malamanhado

Bater fofo é não cumprir
tecetera é escambau
Sujar muito é encardir
Quem acusa, cai de pau
Confusão é funaré
Carta coringa é melé
Atacar é só de mau

Qualquer botão é biloto
Mulher difícil é banqueira
Pequenino é pirritoto
Estilingue é baladeira
Qualquer coisa é birimbelo
Descorado é amarelo
Sem requinte é labrocheira

Um perigo é boca quente
Porco novo é bacurim
Atrevido é saliente
Quem não presta é corja ruim
Dedo duro é cabuêta
A perna torta é zambêta
Coisinha pouca é tiquim

Parteira era cachimbeira
Dar mergulho é tibungar
Tem cucuruto, moleira
Olhar demais é cubar
Tem ainda ternontonte
Que vem antes do antonte
Ver de soslaio é brechar

Quem briga bota boneco
Sem valor é fulerage
Copo pequeno é caneco
Estrada boa é rodage
O tristonho é capiongo
Galo ou inchaço é mondrongo
E a ralé é catrevage

O velho ovo estrelado
É o bife do oião
Nervoso é atubibado
Repreender é carão
O zarôlho é caraôi
Enviezado, zanôi
Inquieto é frivião

A perna fina é cambito
Dar o fora é azular
Muito magrelo é sibito
Pisar manco é caxingar
Rede pequena é tipóia
Tudo bem é tudo jóia
Fazer troça é caçoar

A expressão 'dá relato'
Que atinge mais de légua
'Tá ca peste!' 'Só no Crato!
'Tá lascado!' e 'Aarre égua!'
'Corra dentro!' ' Qué cirmá? '
'É de rosca? 'Éé de lascar! '
'Vôte!' 'Ôxente! 'Isso é paid'égua!'

Se é muito longe, arrenego
Que Deus do céu nos acuda
É pra lá da caixa prego
Lá no calcanhar do juda
Nas bimboca ou cafundó
Nas brenha ou caixa bozó
Onde o vento a rota muda

Se é cheia de babilaque
É ispilicute ou dondoca
Ligeiro é 'que nem um traque'
Agachado é tá de coca
Sem rumo é desembestado
O faminto é esguerado
Bolha na pele é papoca

Chamuscado é sapecado
Nuca, cangote é cachaço
Meio tonto é calibrado
A coluna é espinhaço
Se está adoentado
Tá como diz o ditado:
'da pucumã pro bagaço'

Cearense tem mania
Chama todo mundo Zé
Zé da onça, Zé de tia
Zé ôin ou Zé Mané
Zé tatá ou Zé de Dida
Achando pouco apelida
Um bocado de Zezé

Fazer goga é gaiofar
O que é longo é cumprissaio
Provocar é impinjar
Toda pilôra é desmaio
Salto ligeiro é pinote
Bando, turma é um magote
Cesto sem alça é balaio

A comidinha caseira
Tem fama no Ceará
Tipicamente brasileira
Faz o caboco babar
No bar do Mané bofão
Pau do guarda, panelão
O cardápio vou citar:

Sarrabulho, panelada
Mucunzá e chambari
Tripa de porco, buchada
Baião de dois com piqui
Tem pão de milho e pirão
Carne de sol com feijão
Tijolo de buriti

Quem é ruivo é fogoió
O tristonho é distrenado
Tornozelo é mocotó
Cheio de grana, estribado
Jarra de barro é quartinha
O banheiro é a casinha
Sem saída, 'tá pebado'

A bebida e o seu rol
No Ceará todo habita
A fubuia e o merol
A truaca e a birita
Amansa sogra ou quentinha
Engasga gato, caninha
A meropéia e a mardita

O picolé no saquinho
Aqui se chama dindin
Se é o dedo menorzinho
É chamado de mindin
Riso sonoro é gaitada
Confusão é presepada
Atrevido é saidin

Papo longo e sem valor
É 'miolo de pote'
Muito esperto é vívido
Adolescente é frangote
Soldado raso é samango
A lagartixa é calango
O tabefe é cocorote

A lista é quase sem fim
Não cabe num só cordel
Tem alpercata, alfinim
Enrabichada e berel
Chué, baé, avexado
Bãe de cúia, ôi bribado
Quebra-queixo e carritel

Tem visage, sarará
Tem bruguelo e inxirido
Rabiçaca e aluá
Ispritado e zói cumprido
Bunda canastra, lundu
Dona encrenca, sabacu
Bonequeiro e maluvido

O cearense é assim:
Dá cotoco à nostalgia
A tristeza leva fim
Na cacunda dá euforia
dá de arrudei na carência
Enrola a sobrevivência
e embirra na alegria



Josenir ocupa Cadeira nº 3 da Academia dos Dordelistas do Crato.

03 novembro 2008

Todos os caminhos…


Todos os caminhos…
(Marco di Aurélio)

Pra quem nasceu pra viver
não há pregação que sirva
pra quem nasceu pra morrer
carece crer noutra vida
e se não fosse o sermão
seria a lei do cão
com passagem só de ida.

Eu mesmo nunca reclamo
da vida que se me deu
não assinei promissória
meu prazo não se venceu
enquanto vivo estiver
faço meus queréquequé
bem longe de quem morreu.

Se você for de igreja
me perdoe a petulância
não acredito no céu
pode ser ignorância
mas eu prefiro viver
sem mais fortuna querer
do que essa extravagância.

Menino, prepare a vida
chega de notícia ruim
esse mundo tá lotado
de quem quer chegar no fim
pois eu mesmo quero é mais
quem quiser olhe pra trás
e se esqueça lá de mim.

Marco di Aurélio é autor da primeira edição de literatura de cordel no sistema Braille no Brasil, transita pelas artes plásticas, pelo cinema, pela fotografia, pelos palcos e pelos contos. Se perde na vastidão da vida, vencendo porteiras e cercas de sua própria busca. Um nordestinado... Um ajuntador de palavras, um tangerino de sonhos...