01 dezembro 2008

Calamidade


Calamidade

(Dalinha Catunda)

O Brasil anda agoniado
Sofre sua população

No sul as águas fartas

Causam a inundação

O povo sofrido chora

Com tanta destruição.

Famílias desesperadas,

Perdem casa e plantação

Até gente levam as águas

Muito triste é situação

E o desespero comove

Quem vê na televisão.

Pior é quem sente na pele

A revolta da natureza,

O lamaçal toma conta

Arrastando toda beleza

Desse sul tão majestoso

Que se acaba em tristeza.

É gado na água morrendo

Famílias inteiras soterradas.

Crianças tão indefesas

E mães desesperadas

E a própria Defesa Civil

Não pode fazer quase nada.

Quanta água destruindo

A vida de uma população,

Porém seriam bem-vindas

Se caíssem lá no sertão

Do Nordeste brasileiro,

Onde mora a sequidão.

Os açudes estão secando,

O povo já começa a rezar

O fogo consome os pastos,

E a água não cai por lá.

É o gado e pasto secando,

Da vontade de chorar.

O sol não faz feriado,

O mato inteiro secou,

A caatinga ficou branca,

Outra parte amarelou

O povo pede clemência,

E reza pra Nosso Senhor.

Eu não consigo entender,

Me dói essa contradição.

O sul morrendo afogado,

De sede morre o sertão,

E diante dos meus olhos,

Não vejo uma solução.

E se a natureza cobra,

Com juros a destruição.

Vamos ser consciente

Tratar melhor nosso chão.

Porque a lei do retorno,

Não tem piedade não.


Dalinha Catunda é Acadêmica da ABLC – Academia Brasileira de Literatura de Cordel. A imortal ocupa a cadeira de numero 25 que tem como patrono Juvenal Galeno, poeta e folclorista cearense.

Veja outros cordéis de sua autoria:
Levando Fumo


3 comentários:

  1. Enquanto a população do sul agoniza com a cheia, o nordeste agoniza com a seca. Muito boa a poesia. Falta um SOS para as vítimas da seca também.

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  2. Jesus Cristo nordestino

    Veja minhas mãos pregadas na cruz
    Veja o sangue que nelas escorre
    E será todo em vão este sofrimento?
    Em um berço bem pobre eu nasci
    Numa terra castigada pelo sol
    Terra seca que arde e castiga
    Os filhos da dolorosa agonia
    Que de sede e de fome
    Morrem todos os dias
    Cada qual com sua alegria
    E de onde vem tanta força?
    Das mão calejadas de esperança?
    O tempo é cruel e condena
    Os filhos da terra vermelha
    De onde eu vim não tem chuva
    O rio onde me batizei, secou
    Não multipliquei pães
    Para alimentar o meu povo
    Mas dei-lhes perseverança
    Ungiram meus pés com sândalo e jasmim
    Minhas mãos também lavaram
    Seus rostos, com a leveza de um serafim
    Na minha terra eu era rei
    Agora olhe pra mim
    Pregado nesta cruz de pinho
    Com uma coroa de espinhos
    Chegando perto do fim
    Minha dor não se compara
    Com a dor de meu povo
    Se pudesse, não duvide
    Faria tudo de novo
    Arrancaria de minha própria carne
    Um pedaço de mim
    Me jogaram pedras, me cuspiram
    E as marcas das lâminas que me cortaram
    Ainda latejam em meu corpo
    Mas tal dor não se compara
    Com a dor de meu povo
    Que vivem na indiferença da ingratidão
    No esquecimento e no abandono
    Quando eu era menino
    Eu lia Suassuna ao lado de minha mãe
    Aparecida
    Que hoje chora com meus irmãos
    Nos pés de minha cruz adormecida
    Não chore mais minha mãe

    Vá dar de comer aos meus irmãos
    Deixe-me ficar aqui no sertão
    A ponta da lança faz sangrar o meu peito
    Nesta terra seca não nasce nenhuma flor
    Mas deixarei aqui plantado
    De semente em semente
    Até florescer o amor
    Não chore mais, minha mãe
    Enxuga tuas lágrimas com o
    Vento que sopra em teu rosto
    Vivi ao teu lado todos os dias
    Da minha vida
    E tu nunca deixou-me faltar nada
    Quando nossas cabras morreram de fome
    E o sertão parecia o inferno
    Tirastes força não sei de onde
    E sobrevivemos junto com os restos
    Foi na terra de todos os santos
    Que encontrei meu grande amor
    “Na casa dos Budas ditosos”
    Entreguei-me nos braços de Madalena
    Amada morena-sereia
    Que me fez caminhar sobre as águas
    Talvez ela lhe escreva uma carta
    Ela me espera nos lençóis do Maranhão
    Carregando nosso filho no ventre
    Mãe, imagino o que sentes
    Ao ver teu filho em flagelos
    Mas na altura em que meu espírito
    Se encontra, não há dor
    O sofrimento se transforma em esperança
    Quando a fé é maior
    Somos todos filhos do mesmo pai
    Mas a tempestade que agora cobre os céus
    É uma lágrima que está prestes a cair de seu rosto
    Dê graças a Deus, mãe
    Hoje vai chover no sertão
    Hoje tocará na caatinga uma nova canção
    Vá embora mãe, não sofra tanto por mim
    Deixe essa terra seca dormir
    Nos braços desta noite sem fim
    Que agora se aproxima de nós
    Vá minha mãe, e reze á padre Cicero
    A promessa se cumpriu
    Não levo todos os pecados comigo
    É impossível levar todos os pecados do mundo
    Mas levo o sofrimento de nosso povo
    Que a cada dia é castigado, e sofri
    Nas mãos dos novos romanos
    Aqueles que tem tudo
    Quase sempre não tem nada
    A felicidade não se compra
    A felicidade é de graça
    “ Para os bons de coração”
    Que mesmo não tendo nada
    Dividem o pouco que tem
    É por estes que morro nesta cruz
    Vale a pena morrer pelos bons
    Um dia irão de lembrar deste acontecido
    Sei que não serei esquecido neste mundo de Deus
    Mãe? Quando eu morrer
    Peça para João fazer uma fogueira bem grande
    Quero que meu espírito chegue
    As mãos do pai junto com uma cantiga
    De uma ciranda de rodas
    Agora vá minha mãe
    Hoje vai chover no sertão
    Hoje na caatinga tocará uma nova canção
    Hoje Severino, Jesus Cristo nordestino
    Será elevado ao sagrado coração.

    ......E enquanto sua mãe chorava
    Severino cantava, seu último lamento.......
    “Quando oiei a terra ardendo
    Com a fogueira de São João
    Eu preguntei a Deus do céu, ai
    Por que tamanha judiação.......”

    Sandro Kretus

    O andarilho da terra do fogo
    http://recantodasletras.uol.com.br/e-livros/1346801

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  3. Muito bom seu texto Sandro. Publiquei hoje aqui no blog. Obrigado pela contribuição. Abraços.

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