Material de autoria do parceiro e Violeiro Fábio Sombra. Publicado originalmente no folheto “Proseando Sobre Cordel”.
Métrica e rima no cordel tradicional
Quando alguém canta ou declama versos de cordel logo se percebe o ritmo que vai se repetindo a longo da história. Esse ritmo é resultado da métrica, ou seja, os versos precisam ser construídos com o mesmo número de sílabas. No cordel, os versos possuem geralmente 7 sílabas. vamos tomar a seguinte estrofe como exemplo:
Nesse instante o magrilim
Com voz mansa e bem pausada
Disse olhando pra princesa:
- Ouça aqui, minha adorada,
Quero ver se você pode
Destrinxar essa charada.
Contando as sílabas poéticas do verso, teremos: NES-SEINS-TAN-TEO-MA-GRI-LIM = Sete sílabas.
Se transformamos as sílabas tónicas (pronunciadas com mais força) no som TUM, vamos encontrar o seguinte ritmo: TÁ-TÁ-TUM-TÁ-TÁ-TÁ-TUM = Sete sílabas. Note-se que esse ritmo segue sempre igual nos versosseguintes. Mas, as vezes, pode acontecer algo curioso. Observe-se o segundo verso: COM-VOZ- MAN-SAE-BEM-PAU-SA-DA = Oito sílabas (?).
Como é que pode? Os versos não deveriam todos ter sete silabas? Acontece que estamos falando de sílabas poéticas. Em poesia, a gente só conta as sílabas de um verso até a última tônica, aquela mais forte.
Nesse exemplo, a última sílaba tônica é AS, da palavra pausada. Portanto aquele DA que sobrou no finzinho não entra na conta, e a gente continua com sete sílabas poéticas. No início parece um pouco complicado, mas depois que o poeta grava esse ritmo na cabeça, os versos começam a surgir com grande facilidade.
Outra característica da poesia do cordel é o uso de rimas. No exemplo acima, encontram-se rimas no segundo, no quarto e no sexto verso: paus(ada), ador(ada) e char(ada). Já os versos 1,3 e 5 não precisam rimar com nenhum outro. Isso facilita a vida poética, que só precisa se preocupar em encontrar três rimas por estrofe.
São muitos e variados os temas encontrados no folheto de cordel. Alguns exemplos:
- História do ciclo do cangaço;
- Folhetos jornalísticos que falam de notícias regionais ou nacionais de grande repercussão e interesse geral;
- Bibliografias;
- Sátiras de cunho social ou sobre política e políticos;
- Desafios e pelejas entre grandes violeiros;
- Temas educativos ou de esclarecimento público, usados em campanhas de governos e prefeituras.
No entanto, os grandes campeões de vendas sempre foram mesmo os chamados romances, com narrativas de fantasia e encantamento. Esses folhetos trazem história de reinos misteriosos, localizados na Europa Medieval, na Ásia ou no Oriente. Neles, guerreiros lendários, princesas, e criaturas fantásticas adotam usos, costumes e até nomes bem brasileiros. Sendo assim, o leitor não precisa se assustar, se, num romance de cordel, encontrar o rei Carlos Magno descansando de uma batalha numa rede, aos pés de um cajueiro ou de dividindo uma rapadura com seus doze cavaleiros.
Os romances de cordel também criaram numa série de heróis populares que vencem seus inimigos através da astúcia e da esperteza, fazendo os poderosos de bolos preparando injustiças. Entre eles, os mais queridos são Pedro Malasartes, João Grilo e o Amarelo.
Desafios e Pelejas
O desafio é como uma batalha, só que travada em versos e ao som de viola. Quando dois poetas, bons de rima e improviso se encontram, daí pode surgir um desafio. O objetivo do desafio é desfazer-se do adversário, fazê-lo parecer ridículo ou abobalhado perante a platéia. No entanto, termos grosseiros, ofensas pessoais ou que envolvam a família do adversário não são bem recebidos pela família.
Ao ouvir o ataque que lhe é dirigido o adversário reage, sempre em versos rimados, desfazendo as acusações e lançando sua própria artilharia poética. Quando os adversários são experientes e talentosos, um desafio chega a durar horas e horas e se decide, geralmente, mediante uma das seguintes situações:
- A platéia aclama o vencedor através de gritos e palmas. Geralmente, ao final de uma saraivada demolidora de versos.
- Um dos adversários reconhece sua inferioridade e desiste da peleja por vontade própria.
- Um dos adversários não consegue encontrar resposta para alguma provocação que lhe é dirigida.
- Um dos adversários “empaca” e demora muito para encontrar a rima certa para seu verso.
- Um dos adversários apela para a violência física. Nesse caso ele é imediatamente declarado perdedor.
Para participar de um desses embates, o violeiro precisa possuir um grande domínio do ritmo e da arte de se improvisar. Pensamento rápido e jogo de cintura também não podem falar e já fizeram a fama de muitos cantadores.
Veja também:
A história do cordel
Curiosidades sobre cordel
O futuro e o presente do cordel
Cordel poeta e viola/
ResponderExcluirSão três que não se separa/
Quando um geme o utro fala/
Rimam dentro da bitola/
Sai de dentro da caxola/
Dum jeito que ninguem faz/
Só os poetas são capaz/
De tamanha inteligência/
Nem pedindo por clemencia/
Sem ser poeta não Faz./
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//Anizio, 31/03/2009.
adoro ler cordel ......e concordo com vc nao sao todos que sao capazes de fazer um cordel mais se tentarem e batalharem como vc fez a gente consegue
ExcluirSó uma observação! Cordel não é repente! São seguimentos distintos, cada um se conceitua com características e naturezas e formas diferenciadas.
ExcluirMuito bom!!! gosto de ler nossa cultura e sentir que ela ainda esta viva. parabéns
ResponderExcluira ta
ResponderExcluiradorei!:-)cultura e tudo de bom,principalmente no nodeste que a cultura esta em primeiro lugar.
ResponderExcluirEU AMEI TUDO E MEUS AMIGOS AMOU TODOS OS SITE
ResponderExcluirEU ESTOU EMPRESIONADA SOBRE A LITERATURA DE CORDEL
Pra falar sobre cordel
ResponderExcluirÉ preciso ser amante
Amar a literatura
E o nordestino cativante
Por isso quando se lê
Algo interessante
É facil de perceber
A alma de um bom amante
Esses pequenos e humildes versos são para o reconhecimento deste site, que foi o melhor que eu achei na internet sobre a literatura de cordel, Parabéns eu me encantei com o cordel e tomara que através desse site outras pessoas se encantem.
Os poetas repentistas
ResponderExcluirNem todos lhe dão valores
Só os bons conhecedores
Reconhecem esses artistas
Que não vivem nas revistas
Essas nobres criaturas
Pesquisem façam leituras
Pra terem conhecimento
Se não conhecem eu lamento
Não conhecerem a cultura.
//Anizio
paff peff piff poff é quem vai fazer o puff quem nos ama é só um o incrivel homem do pedaço do céu o grande homem o perfeio o melho dos melhores é ele deuss e zeuss são osmelhores os perfeitos sem inperfeição.
ResponderExcluircomvoz mansa e bem pausada disse olha pra pricesa:-ouça aqui,minha adorada,quero ver se voce pode desifra essa charada.
ResponderExcluirmuitoo bomm. amei amei amei..
ResponderExcluirgostei muito! sou de Batalha/al me deu ideas para o meu trabalho da escola. obrigado!
ResponderExcluirgostei muito
ResponderExcluireu aprecio muito os cordeis
ResponderExcluireu adorei as dicas pois além de me ajudam a estar más por dentro da cultura brasileira que é lindissima e cheia de coisas que quase ninguém conhece, então abrir esses cites falar um pouco sobre a cultura , espalha-la é muito importante ;parabéns pros que postam esses assuntos na internet parabéns mesmo !
ResponderExcluirbarbára beatriz /babi
Também sou fã do Cordel
ResponderExcluirPercebo sua importância
Estudo e falo dele
O defendo em toda instância
É cultura do Nordeste
Cultivada desde a infância.
o negocio ne rimar negocio é cantar bem porque quando eu me abulzo de canto pode vir sem bote a rima para cá que eu sou rimador tambem !
ResponderExcluirmuito legal
ResponderExcluirFui criada lá na roça
ResponderExcluirE tive como diversão
Literatura de cordel
Pra aquietar o coração
De um fim de dia cansado
Todo povo ali sentado
Em volta do meu fogão
Quando pequena eu ouvia
Depois passei à leitura
Para que todos ouvissem
Precisava ter postura
De leitora apaixonada
E cada vez mais encantada
Com essa nossa cultura.
Meu pai então falecido
Me deixara como herança
Muitos livros de cordel
Que alimentou-me esperança
De me tornar escritora
E hoje sou professora
E leio pra minhas crianças.
Bom, o texto que fala de desafios de violeiros, trata como se ainda hoje acontecesse dessa forma, coma está descrito, era um tipo de desafio que se cantava no meado dos anos 50 do século passado, hoje, já se usa uma linguagem mais rebuscada, o desafio consiste numa disputa de pensamento, não se usa mais xingamentos e, nem menos agressões físicos.
ResponderExcluirMinha homenagem ao grande Zé Limeira:
ExcluirFoi num porto da Bahia
Que Dom João chegou bem cedo
Dava pra contar no dedo
A bagagem que trazia
Uma dúzia de bacia
Dois fardos de algodão
Gasolina de avião
Do café trouxe a semente
Duas bíblias uma de crente
Outra do rei Salomão
Cristo enforcou Jesus
Na beira do rio Jordão
Na noite de São João
Num galho de cipó-cruz
Comeu pirão com cuzcuz
No meio da cabroeira
Na noite de sexta-feira
Cantou prosa e rezou missa
José e Maria castiça
Diria assim Zé Limeira
No tempo da ditadura
Eu rezei pro pai eterno
Fez sol mas deu bom inverno
Plantei fava e rapadura
Veja só que formosura
A “muié” de Barbosinha
Se ela tivesse sozinha
E o cachorro amarrado
Eu levava ela prum lado
E uma cuia de farinha
O pai da aviação
Por nome Drumon Andrade
Sem dó e nem piedade
Se atracou com Lampião
Na bainha um facão
Na matula um castiçal
Gritou pra São Nicolau
Acuda-me nessa hora
Disse isso e foi-se embora
Deixando um cartão postal
Por causa da Ditadura
O Brasil foi descoberto
Um navio chegou perto
Da curva da ferradura
Dom Pedro fez a leitura
Na borda da ribanceira
Cabral trouxe uma cadeira
Sem dó e sem ter clemência
Proclamou a independência
Diria assim Zé Limeira
No dia em que eu falecer
Peço pro povo velante
A noite toquem um berrante
Botem pinga pra beber
Espero comparecer
Virgulino Lampião
Patativa e Gonzagão
O dono da Coca-Cola
Mais Pelé o Rei da bola
E o pai da aviação
(Zé Roberto)