26 dezembro 2007

Métrica, rima e temas no cordel tradicional


Material de autoria do parceiro e Violeiro Fábio Sombra. Publicado originalmente no folheto “Proseando Sobre Cordel”.

Métrica e rima no cordel tradicional

Quando alguém canta ou declama versos de cordel logo se percebe o ritmo que vai se repetindo a longo da história. Esse ritmo é resultado da métrica, ou seja, os versos precisam ser construídos com o mesmo número de sílabas. No cordel, os versos possuem geralmente 7 sílabas. vamos tomar a seguinte estrofe como exemplo:

Nesse instante o magrilim
Com voz mansa e bem pausada
Disse olhando pra princesa:
- Ouça aqui, minha adorada,
Quero ver se você pode
Destrinxar essa charada.

Contando as sílabas poéticas do verso, teremos: NES-SEINS-TAN-TEO-MA-GRI-LIM = Sete sílabas.

Se transformamos as sílabas tónicas (pronunciadas com mais força) no som TUM, vamos encontrar o seguinte ritmo: TÁ-TÁ-TUM-TÁ-TÁ-TÁ-TUM = Sete sílabas. Note-se que esse ritmo segue sempre igual nos versosseguintes. Mas, as vezes, pode acontecer algo curioso. Observe-se o segundo verso: COM-VOZ- MAN-SAE-BEM-PAU-SA-DA = Oito sílabas (?).

Como é que pode? Os versos não deveriam todos ter sete silabas? Acontece que estamos falando de sílabas poéticas. Em poesia, a gente só conta as sílabas de um verso até a última tônica, aquela mais forte.

Nesse exemplo, a última sílaba tônica é AS, da palavra pausada. Portanto aquele DA que sobrou no finzinho não entra na conta, e a gente continua com sete sílabas poéticas. No início parece um pouco complicado, mas depois que o poeta grava esse ritmo na cabeça, os versos começam a surgir com grande facilidade.

Outra característica da poesia do cordel é o uso de rimas. No exemplo acima, encontram-se rimas no segundo, no quarto e no sexto verso: paus(ada), ador(ada) e char(ada). Já os versos 1,3 e 5 não precisam rimar com nenhum outro. Isso facilita a vida poética, que só precisa se preocupar em encontrar três rimas por estrofe.

Temas na Literatura de Cordel

São muitos e variados os temas encontrados no folheto de cordel. Alguns exemplos:

  • História do ciclo do cangaço;
  • Folhetos jornalísticos que falam de notícias regionais ou nacionais de grande repercussão e interesse geral;
  • Bibliografias;
  • Sátiras de cunho social ou sobre política e políticos;
  • Desafios e pelejas entre grandes violeiros;
  • Temas educativos ou de esclarecimento público, usados em campanhas de governos e prefeituras.

No entanto, os grandes campeões de vendas sempre foram mesmo os chamados romances, com narrativas de fantasia e encantamento. Esses folhetos trazem história de reinos misteriosos, localizados na Europa Medieval, na Ásia ou no Oriente. Neles, guerreiros lendários, princesas, e criaturas fantásticas adotam usos, costumes e até nomes bem brasileiros. Sendo assim, o leitor não precisa se assustar, se, num romance de cordel, encontrar o rei Carlos Magno descansando de uma batalha numa rede, aos pés de um cajueiro ou de dividindo uma rapadura com seus doze cavaleiros.

Os romances de cordel também criaram numa série de heróis populares que vencem seus inimigos através da astúcia e da esperteza, fazendo os poderosos de bolos preparando injustiças. Entre eles, os mais queridos são Pedro Malasartes, João Grilo e o Amarelo.

Desafios e Pelejas

O desafio é como uma batalha, só que travada em versos e ao som de viola. Quando dois poetas, bons de rima e improviso se encontram, daí pode surgir um desafio. O objetivo do desafio é desfazer-se do adversário, fazê-lo parecer ridículo ou abobalhado perante a platéia. No entanto, termos grosseiros, ofensas pessoais ou que envolvam a família do adversário não são bem recebidos pela família.

Ao ouvir o ataque que lhe é dirigido o adversário reage, sempre em versos rimados, desfazendo as acusações e lançando sua própria artilharia poética. Quando os adversários são experientes e talentosos, um desafio chega a durar horas e horas e se decide, geralmente, mediante uma das seguintes situações:

  1. A platéia aclama o vencedor através de gritos e palmas. Geralmente, ao final de uma saraivada demolidora de versos.
  2. Um dos adversários reconhece sua inferioridade e desiste da peleja por vontade própria.
  3. Um dos adversários não consegue encontrar resposta para alguma provocação que lhe é dirigida.
  4. Um dos adversários “empaca” e demora muito para encontrar a rima certa para seu verso.
  5. Um dos adversários apela para a violência física. Nesse caso ele é imediatamente declarado perdedor.

Para participar de um desses embates, o violeiro precisa possuir um grande domínio do ritmo e da arte de se improvisar. Pensamento rápido e jogo de cintura também não podem falar e já fizeram a fama de muitos cantadores.


Veja também:
A história do cordel
Curiosidades sobre cordel

O futuro e o presente do cordel



22 comentários:

  1. Cordel poeta e viola/
    São três que não se separa/
    Quando um geme o utro fala/
    Rimam dentro da bitola/
    Sai de dentro da caxola/
    Dum jeito que ninguem faz/
    Só os poetas são capaz/
    De tamanha inteligência/
    Nem pedindo por clemencia/
    Sem ser poeta não Faz./

    *************************
    //Anizio, 31/03/2009.

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    1. aline rodrigues24 maio, 2012

      adoro ler cordel ......e concordo com vc nao sao todos que sao capazes de fazer um cordel mais se tentarem e batalharem como vc fez a gente consegue

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    2. Só uma observação! Cordel não é repente! São seguimentos distintos, cada um se conceitua com características e naturezas e formas diferenciadas.

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  2. Muito bom!!! gosto de ler nossa cultura e sentir que ela ainda esta viva. parabéns

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  3. adorei!:-)cultura e tudo de bom,principalmente no nodeste que a cultura esta em primeiro lugar.

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  4. EU AMEI TUDO E MEUS AMIGOS AMOU TODOS OS SITE
    EU ESTOU EMPRESIONADA SOBRE A LITERATURA DE CORDEL

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  5. Pra falar sobre cordel
    É preciso ser amante
    Amar a literatura
    E o nordestino cativante

    Por isso quando se lê
    Algo interessante
    É facil de perceber
    A alma de um bom amante

    Esses pequenos e humildes versos são para o reconhecimento deste site, que foi o melhor que eu achei na internet sobre a literatura de cordel, Parabéns eu me encantei com o cordel e tomara que através desse site outras pessoas se encantem.

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  6. Os poetas repentistas
    Nem todos lhe dão valores
    Só os bons conhecedores
    Reconhecem esses artistas
    Que não vivem nas revistas
    Essas nobres criaturas
    Pesquisem façam leituras
    Pra terem conhecimento
    Se não conhecem eu lamento
    Não conhecerem a cultura.


    //Anizio

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  7. paff peff piff poff é quem vai fazer o puff quem nos ama é só um o incrivel homem do pedaço do céu o grande homem o perfeio o melho dos melhores é ele deuss e zeuss são osmelhores os perfeitos sem inperfeição.

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  8. comvoz mansa e bem pausada disse olha pra pricesa:-ouça aqui,minha adorada,quero ver se voce pode desifra essa charada.

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  9. muitoo bomm. amei amei amei..

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  10. gostei muito! sou de Batalha/al me deu ideas para o meu trabalho da escola. obrigado!

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  11. eu aprecio muito os cordeis

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  12. eu adorei as dicas pois além de me ajudam a estar más por dentro da cultura brasileira que é lindissima e cheia de coisas que quase ninguém conhece, então abrir esses cites falar um pouco sobre a cultura , espalha-la é muito importante ;parabéns pros que postam esses assuntos na internet parabéns mesmo !
    barbára beatriz /babi

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  13. Também sou fã do Cordel
    Percebo sua importância
    Estudo e falo dele
    O defendo em toda instância
    É cultura do Nordeste
    Cultivada desde a infância.

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  14. o negocio ne rimar negocio é cantar bem porque quando eu me abulzo de canto pode vir sem bote a rima para cá que eu sou rimador tambem !

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  15. Fui criada lá na roça
    E tive como diversão
    Literatura de cordel
    Pra aquietar o coração
    De um fim de dia cansado
    Todo povo ali sentado
    Em volta do meu fogão

    Quando pequena eu ouvia
    Depois passei à leitura
    Para que todos ouvissem
    Precisava ter postura
    De leitora apaixonada
    E cada vez mais encantada
    Com essa nossa cultura.

    Meu pai então falecido
    Me deixara como herança
    Muitos livros de cordel
    Que alimentou-me esperança
    De me tornar escritora
    E hoje sou professora
    E leio pra minhas crianças.


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  16. Bom, o texto que fala de desafios de violeiros, trata como se ainda hoje acontecesse dessa forma, coma está descrito, era um tipo de desafio que se cantava no meado dos anos 50 do século passado, hoje, já se usa uma linguagem mais rebuscada, o desafio consiste numa disputa de pensamento, não se usa mais xingamentos e, nem menos agressões físicos.

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    1. Minha homenagem ao grande Zé Limeira:

      Foi num porto da Bahia
      Que Dom João chegou bem cedo
      Dava pra contar no dedo
      A bagagem que trazia
      Uma dúzia de bacia
      Dois fardos de algodão
      Gasolina de avião
      Do café trouxe a semente
      Duas bíblias uma de crente
      Outra do rei Salomão

      Cristo enforcou Jesus
      Na beira do rio Jordão
      Na noite de São João
      Num galho de cipó-cruz
      Comeu pirão com cuzcuz
      No meio da cabroeira
      Na noite de sexta-feira
      Cantou prosa e rezou missa
      José e Maria castiça
      Diria assim Zé Limeira

      No tempo da ditadura
      Eu rezei pro pai eterno
      Fez sol mas deu bom inverno
      Plantei fava e rapadura
      Veja só que formosura
      A “muié” de Barbosinha
      Se ela tivesse sozinha
      E o cachorro amarrado
      Eu levava ela prum lado
      E uma cuia de farinha

      O pai da aviação
      Por nome Drumon Andrade
      Sem dó e nem piedade
      Se atracou com Lampião
      Na bainha um facão
      Na matula um castiçal
      Gritou pra São Nicolau
      Acuda-me nessa hora
      Disse isso e foi-se embora
      Deixando um cartão postal

      Por causa da Ditadura
      O Brasil foi descoberto
      Um navio chegou perto
      Da curva da ferradura
      Dom Pedro fez a leitura
      Na borda da ribanceira
      Cabral trouxe uma cadeira
      Sem dó e sem ter clemência
      Proclamou a independência
      Diria assim Zé Limeira

      No dia em que eu falecer
      Peço pro povo velante
      A noite toquem um berrante
      Botem pinga pra beber
      Espero comparecer
      Virgulino Lampião
      Patativa e Gonzagão
      O dono da Coca-Cola
      Mais Pelé o Rei da bola
      E o pai da aviação

      (Zé Roberto)

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