02 outubro 2007

O Jagunço Chamboqueiro Contra a Noviça Avoador

Por Gustavo Arruda

Transantontem rumei pro Cine Rex, pra ver aquele menino do cabelo escorrido, Tonho Cruz. O caboclo é macho que nem um preá, pula feito um sagüim, corre feito uma catita e escapole feito azougue quando cai no chão.
Na historia ele tinha de pajear uma gringa chimbica, sibita do cambito fino, mas derretida por ele (chega arrevirava o ôio quando ele perguntava: “Tais bem, troço?”).

É que uns bandoleiros (lá pras bandas das Arábias) queriam roubar a lambisgóia pra mode trocar por um cabra deles. E o gavião teve de acunhar.
Numa hora os cangaceiros tão assentados num tamborete de feira (comendo mel de engenho com queijo coalho, dentro de um caçuá) quando chega Toinho... Mais alinhado que meio-fio. Pense numa vestimenta guaribada! Uma camisa de estopa, uma calça riscada e uma bota de couro de bode (rebrilhando feito catarro em parede). Aí o chefe dos bandidos se alevanta, ainda mastigando um taco de charque.

O bicho era ruim que só titica de gato novo, gordo, chamboqueiro e com uma gaitada amargosa (alembrava Zezim de Seu Nóia cuspido e escarrado). Olha pra Tonho e diz: “É tu de novo, Richaldo?”.
Pra que ele disse isso? Toinho dá um tiro na manteiga de garrafa que avôa farinha em riba do povo, os amaldiçoados ficaram virados no satanás e começou o cacete. Depois falta espoleta pra Tonho, ele amorcega um caminhão e foge.

Só que fica sem freio. Mas tu pensa? Parecia manifestado com a Pomba Gira. Dá um salto imortal de banda (feito arribação) e se ajoga ribanceira abaixo.
Todo mundo no cinema pensa que o mocinho morreu: “Agora danou-se!”, “É a Noviça Avoadora!”. Só que o danado bate numa touceira e se alevanta, já espigado (feito pitoca armada de menino queijudo e secão). Ô bicho bom do créu! Nisso a volante acode e é um fogueteiro do inferno (parecia a Festa da Pitomba domingo de tarde). Os jagunços: “Avia que lá vai chumbo!”.

E os macacos: “Arrei a arma, infeliz!”.
Foi quando Tonho Cruz se apendura numa corda, cai no cocuruto do chefão e faz ele ter um faniquito. Eu sei que, no final, vai tudinho pro xilindró e os mocinhos ficam tomando cana com mortadela na beirada de um açude.

*Inspirado no conto “Matuto no Cinema”, de Jessier Quirino (Paisagem do Interior)

Gustavo Arruda é um grande pernanbucano de Recife e autor do livro "Ri melhor quem mente primeiro”.


Gustavo Arruda
gjarruda@hotmail.com
www.gustavoarruda.xpg.com.br


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