12 abril 2008

O conto da lua

O outro lado da lua
Cap. 1 - O encontro

Ela aproximou-se dele, pôs as mãos em seu rosto e disse:

- Nosso tempo acabou, foi bom te rever, mas agora precisamos ir.

Será que o tempo acabou mesmo, pensou consigo. Acho que sim. Ele agradeceu por tudo, deu umas batidas na sola do sapato pra cair o excesso de areia e foi embora. Ainda pensou em ficar e dizer alguma coisa que a fizesse mudar de idéia, mas desistiu e foi. Nem olhou pra traz. Afinal de contas, já não tinha nada mesmo para fazer ali, apenas confortava-o aquele lugar. Sabia que nunca mais iria voltar ali, não daquele jeito.

No caminho de volta viu que a lua estava olhando-o, não parava de lhe observar. Quando ele a olhava, logo disfarçava. Acho que ela não queria que ele percebesse. Ela parecia que estava dentro d água, como se tivesse boiando num rio transparente. Tentou enganá-la e dar um flagra, de nada adiantava, estava mesmo disposta a persegui-lo naquela noite, só espiando-o. Ninguém consegue enganar a lua, por mais que tente.

Não sabia o que era pior: ir embora sabendo que o tempo já tinha acabado ou pelo simples fato de achar isso. E ainda tinha a lua que não tirava os olhos dele. Foi quando resolveu parar. Tava frio, mas parou e olhou pra ela. Imediatamente ela parou também. Para sua grande surpresa, não disfarçou mais seu olhar, encarou-o e até sorriu. Acho que também precisava de alguém para conversar.

- Porque você está me olhando e me seguindo desde que sai de lá em dona lua? Eu fiz algo de errado?

Ela apenas brilhou em minha direção.

- Isso é um sim ou um não?

Outro brilho ainda mais forte.

- Dona lua, se esse brilho for um sim, então me mostre o que seria um não.

Daí ela apagou. Tudo ficou escuro. Só as estrelas agora lhe serviam de guia. Pelo menos já sabia o que era um sim e um não.

- Lua, prefiro você dizendo sim. Apareça!

Nada. Só a escuridão.

- Aparece, por favor, não quero ficar aqui sozinho!
- Eu deveria ter saído mesmo quando ela disse que o tempo acabou?

Perguntei já sem esperança nenhuma de alguma resposta. Imediatamente a lua apareceu. Ainda mais bela. Que alívio, não agüentava mais ficar ali naquela escuridão. Por outro lado, surpreso com sua afirmação. A lua nunca erra mesmo, muito sábia. Conformei-me.

- Porque você só mostra um lado? Gostaria de saber como seria seu outro lado. É tão belo quando esse?

Nada aconteceu, nem brilhou, nem apagou. Imaginou que ela própria não soubesse. Percebeu até que o brilho ofuscou. Será que ela não gostou da pergunta? Estaria a lua triste por não ter uma resposta ou será que se irritou com a indiscrição de uma pergunta tão íntima?

Eram agora dois seres ali sem luz, seu olhar continuava sem brilho, a lua não brilhava mais. Ela talvez por não conhecer seu outro lado, ele certamente por conhecer o seu demais. Nada perguntou. Preferiu ficar na dúvida se ela não soubesse, não gostasse ou se preferisse não falar de sua outra face. Aquela que ninguém nunca tinha visto, aquela que ninguém conhecia.

Continua...
Cap.2 - O perfume da noite
Cap.3 - O passado se fez presente
Cap.4 - Nosso tempo acabou



3 comentários:

  1. TEnho paixão pela lua...gostei muito do seu canto virtual

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  2. Agradecendo a visita e comentários ao meu blog.

    Adorei esse post.
    A lua é um mistério encantador.
    Blog bacana.

    Abraço.

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  3. Vim agradecer a sua simp�tica visita e tive a surpresa de me deparar com um fant�stico di�logo. Isso, sem falar que sou uma verdadeira adoradora da lua e que a tenho como conselheira e c�mplice.
    Abra�o

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