18 dezembro 2007

Maiquinique: a derradeira parada

A vida nômade se encerrou com a chegada a Maiquinique, em meados dos anos 70, onde encontrou sua amada, Nicinha, experimentou da água e constatou que ali deveria se banhar por muitos anos. Num terreno, na extremidade da cidade de então, construiu sua moradia, batizando-a poeticamente de “Sítio Pau Pereira”. Não por acaso, Pereira é o sobrenome de João e o nome da madeira que a meninada extrai a forquilha do estilingue.

Em Maiquinique, ganhou o sobrenome artístico, Bolinha, por conta de uma brincadeira de boteco. João apresentava uma esfera e três tampinhas de cerveja para um determinado sujeito. Na seqüência, misturava a bola entre as tampilhas para o camarada adivinhar o destino final do objeto redondo. Se o camarada não acertasse, pagava a cerveja, fonte usada para desinibir versos.

Hoje, aos 84 anos, João Bolinha continua no “Sítio Pau Pereira” junto com Nicinha. A cidade cresceu em torno da propriedade, mas ele continua a cultivar seu templo. Planta seu próprio alimento, fabrica licores artesanais, pinta cabaças, reclama da saúde, escreve e sonha. O artista pretende transformar parte da sua residência na “Casa da Cultura João Pereira da Silva”.

Todos os interessados num bom papo cultural podem bater na porta da casa dele. Só precisa de um pré-requisito: ter muito tempo para ouvi-lo. Depois da segunda hora de conversa, é muito fácil associá-lo ao personagem Ed Bloom, do filme Peixe Grande (Big Fish. Tim Burton. EUA, 2003), exímio contador de história que, no delírio de morte, transforma-se num enorme peixe e continua a viver. Ed, prestes a falecer, explica para seu filho, Will, que o peixe só é grande porque ninguém consegue pescá-lo. João Bolinha idem.

João Bolinha, um peixe grande

Brasília, os homens e a cabeça


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