26 outubro 2010

Entre o cabaço e o comedor - Jessier Quirino

Ensaiozinho sobre o 2º turno da eleição presidencial – out. de 2010
Jessier Quirino

Quando surgiu por aqui a palavra roubalheira, cuidaram logo de rapar o “R” de Brasil, pensando que tinha um cifrão, e tinha. Daí a dificuldade da gente escolher um candidato a dono da casa e tocaieiro. Quer ver? Vá ouvindo aí: Em todo discurso microfonado a frase mais festejada é “Agora vamos a luta!”. Pelo perfil faminto dos apoiadores, e pelo pingue-pongue das acusações de lado a lado, conclui-se que LUTA pode ser Legião Única da Trambicagem Afiada. E a LUTA continua.

Eis que, no meio da campanha, surge um pacote supremo de trovões e de coriscos e um anúncio assustador:
− Quem for a favor do furto, da mentira e do aborto jamais chegará ao plano alto!!!!
 Não era Planalto, era plano alto. Repetindo: plano, alto. O lugar edênico; o olimpo; a mansão dos justos; o sublime plano das alturas. Pensaram que era Planalto e que teria, por certo, o visto do céu, aí deu o créu.

Tome juras de bondade, tome amor à cristandade...
Como é que pode, meu cumpade, se falar em ir pro céu, se, na terra, eles botam até óculos pra melhor acertar o centroma do povo? Aqui, quando um homem público, de tanto destampar o eleitorado, é acusado de “abuso de foder”, se desculpa na justiça dizendo: Ora, Excelentíssimo Ministro do Sopremo, eu fudo desde os 15 anos!! Pode um negócio desses? Eu FUDO? E não é Sopremo, é Supremoooo! E não é porque começou aos quinze anos que vai continuar a fornicada. Chega, cacete!

E como se não bastasse, tem a Lei da Ficha Limpa, aprovada, inclusive, pelo fichário sujo que escapou do alçapão. Pode? Pode. É só criar uma nova sigla: FACSE - Fundo de Apoio ao Corrupto Sem Esquema, e a

LUTA continua feito parafuso em compensado: fura, mas não deixa rosca.
Não podemos esquecer, lógico, o trabalho milagroso dos marqueteiros A e B, que consiste em pegar um rolo grande de arame farpado, rebater as pontas agudas, muito bem rebatidas, enrolar em plástico-bolha cintilante e sacudir nos peitos do povo, dizendo: “Vá por mim, vote nesse traste”. Depois de eleito é só abrir o rolo e ver o rolo que vai dar.

A tática de campanha do partido governista é apenas trocar de tambor: sai um tambor e entra outro; novinho; cabaço; virgem de eleição. Porém, apresenta falhas: penetra sem saliva na flor-roxa do sujeito e, que nem fábrica de pólvora, por qualquer bobagenzinha, é sujeita a explosão.

A tática da oposição é trocar o batalhão, as armas e o fardamento e manter apenas o alvo: o kuwait castigado da áurea e verde nação. Mas também tem dois defeitos: fama negra partidária de comer o eleitorado, e a feição do candidato ser de um mastro hasteado, em formato de ereção.

Aviso final ao eleitor: O lacre da Urna Eleitoral é uma cartela de ficha limpa entre o cabaço e o comedor. Votou sujou.



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