A Balinheira
Álvaro Diniz Filho
ATIRADEIRA – Forquilha de madeira ou metal, munida de elástico com que se atiram pequenas pedras [Sin. (em vários pontos do Brasil): baladeira, baleeira, beca, bodoque, badoque ou badogue, estilingue, funda, peteca, seta setra.]
Engraçado, no pai-dos-burros tem todos esses nomes mas não tem o da minha infância: Balinheira, é ba-li-nhei-ra. Lá no “mei do mato” se vê moleque danado atrás de um gancho perfeito, bem feitinho, de madeira forte que não quebre, não rache e não empene e por isso é que tem que ser de Araçá ou Goiabeira; a liga é de câmara de ar de trator daquela quadradinha que só se acha nos melhores bancos do “mei” da feira de mangai do interior e quando você atira a pedra chega a tinir no chão. Já o couro de lançar a pedra pode ser tirado de qualquer sapato velho, desde que seja forte pra aguentar o repuxo. Outra coisa, se vai sair pra dentro do mato tem que levar pelo menos umas liguinhas para o conserto, se precisar.
Agora sim! O que se vê?
É pedra no cajú, no cajá, na manga espada, na casa de marimbondo cabôco que sai correndo atrás da gente; É pedra na lagartixa... só que antes de atirar, “por uma questão ecológica” você tem que perguntar a ela: “E aí dona lagartixa voce tá querendo briga?”. Se ela balançar a cabeça dizendo que sim você atira, se ela balançar a cabeça dizendo que não, você deixa a bichinha ir embora. É pedra na rolinha caldo-de-feijão que é uma beleza depois de depenada e frita, é pedra no beija-flor, êpa! Mas aí tem que levar uma faca pra correr pegar o bicho ainda vivo, tirar o coração ainda batendo e engolir dizendo: “Bicho ligeiro e miúdo com o teu coração comigo eu agora acerto em tudo!”
Daí você vai ficar com uma pontaria sem igual, porém, para tudo dar certinho, tem que treinar muito pois tem que matar o bichinho no vôo.
Se for entrar numa “guerra”, a bala não pode ser de pedra. Tem que ser de mamona ou carrapateira e também não pode acertar na cabeça do outro, se não, você é expulso da brincadeira.
Se for atirar na água da lagoa, açude ou rio você tem que usar “checho” (seixo) pois o bicho é bem lisinho e se atirar bem rente com a água, aí você vai ver a pedrinha repicar sei quantas vezes na flor dela.
No final do dia você volta pra casa morto de cansado e sua mãe vai dar graças a Deus que você tava brincando com balinheira e não com bola de pano na areia do rio.
Bola de pano? Que danado é isso?
Ah, essa é uma outra aventura.
E não é que meu pai escreveu bem pra caramba hein?!
ResponderExcluirÓtimo texto, valeu papai! :D
Muito bommmm! Vou adaptar para uso na sala de aula.Sem a rolinha e o beija-flor!
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