É nas festas juninas que o folclore ascende ao posto de a manifestação mais importante da região. Lendas, mitos, músicas e danças tradicionais são festejadas dia e noite durante várias semanas, mas é só julho chegar e pronto: o boi morre e o folclore é colocado no armário de fantasias do imaginário popular para empoeirar até o próximo junho.
A morte do boi é o marco do fim das festividades juninas, segundo a historiadora e folclorista Cecília Mendes. “A tradição é repetir a festa no período certo, pois estas são festas datadas”, justifica a estudiosa. “Nós não temos ainda a cultura de festejar nossas lendas o ano inteiro, como faz o Maranhão com o boi. Isso faz parte da evolução da cidade, quando começarmos a pensar isso como um atrativo turístico, talvez haja mais investimentos”, constata Cecília Mendes.
“Nós temos conteúdo para lembrar lendas, danças e acontecimentos histórico-culturais o ano inteiro, o Piauí é riquíssimo em lendas, tradições e cabeças pensantes, só não podemos deixar isso morrer”, diz Lizete Napoleão, acadêmica da Academia Piauiense de Letras, que escreveu alguns livros de resgate das lendas e do folclore piauiense e está prevendo para Outubro Uma História Atrás da Outra, título de seu novo livro.
Escrever esses livros, para ela, é uma maneira de transmitir as tradições que são contadas em porteiras de fazendas no interior e nas conversas de varanda, que não são mais possíveis na cidade grande.
Mas Lizete lembra que há outras datas durante o ano que também são representações de nosso folclore, mas que também são “festas datadas”, como o pastorio, no natal, o reisado em janeiro, o dia do folclore (22 de agosto), que é mais lembrado nas escolas com intervenções mais didáticas. “Agradeço por terem criado o dia do Cabeça de Cuia (31 de outubro) em substituição ao Halloween”, comenta Lizete Napoleão, ao falar que esta é uma forma de valorizar a cultura local, e não a estrangeira. Embora muitas de nossas tradições sejam uma herança da África e da Europa, como as quadrilhas.
CONTRAPONTO – O teatro do boi, na zona norte da cidade, é um exemplo de preservação e estudos do folclore piauiense, lá está sediada a escola de Danças Folclóricas de Teresina. São cerca de 200 crianças de 7 a 18 anos. “A idéia é que as crianças tomem gosto pela dança, porque lenda é isso, vai passando de geração em geração e nós não sabemos onde vai parar”, diz Valdemar Santos, diretor da escola de danças folclóricas. Valdemar ressalta ainda que as manifestações cultivadas no teatro do boi “são uma releitura mais moderna das tradições, uma forma de atrair mais as crianças”.
Nas escolas municipais de Teresina temos outros exemplos. Através do projeto “Escola Aberta, Escola da Gente” que oferece atividades pedagógicas, esportivas e culturais, aos fins de semana para toda a comunidade interessada, foram implantadas algumas oficinas de danças afros e reisado em algumas escolas. O destaque é para uma oficina permanente de Boi que está funcionando na Escola Municipal N. Sra. do Perpétuo Socorro, no bairro Cerâmica Cil, que já é considerado zona rural da cidade.
São 25 crianças de 5 a 16 anos, que aprendem dança, percussão, da fabricação dos instrumentos à decoração do boi. “Além do boi, outras manifestações, tais como teatro, danças e teatro de bonecos, entre outras, tendo a preocupação de preservação e divulgação de nossa cultura”, diz Reginaldo Costa coordenador do grupo que recebeu o nome de Boi Mirim.
Sendo assim, pode ser que através da educação o Boi viva, ao menos no coração do povo que o criou na imaginação, o ano inteiro.
Dalyne Barbosa é jornalista e nossa correspondente no estado do Piauí.
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