09 junho 2008

Rastapé no sertão

“Olê muié rendeira,
Olê muié rendá,
Tu me ensina a fazê renda
Que eu te ensino a namorá”

A musicalidade sempre esteve muito presente na cultura e na história do nordeste. Zé do Norte quando compôs "Mulher Rendeira", atribuiu a Virgulino Ferreira – Lampião, que apesar de pintar o sertão com o vermelho de sangue, também fazia suas rodas de xaxado e junto com o seu bando, animava os lugares por onde passava.

A dança já vem impregnada no couro suado da pele do nordestino. Aqui se dança de tudo, mas de onde vem todo esse remelexo? Tanto gingado? A maioria das danças populares caracteristicas de nossa região, vieram da cultura negra. Também tivemos a influência indígena e européia.

Resolvi então colocar aqui no Cultura Nordestina algumas das mais tradicionais danças nordestinas e um pequeno resumo de sua história e influência.

O Forró
O forró, assim como o samba, possui as mesmas raízes, ou seja, ambos se originaram da mistura de influências africanas e européias. "Na música nordestina, um toque indígena, uma pitada européia, um tempero africano; é só degustar..." já citava um dos especialistas no assunto.

O batuque
- dança de roda com que os africanos mostravam a sua cultura - foi o tronco principal no que diz respeito à formação da música popular no Brasil. Dele surgiram diversas variações que se espalharam tanto em áreas urbanas quanto rurais sob vários nomes e estilos próprios conforme a região do país.

O Forró como gênero musical pode ser considerado filho do Baião. O nome Forró era usado só para designar o local onde aconteciam os bailes e só mais tarde foi caracterizado como estilo musical, derivado do Baião. Muitos ainda confundem Baião e Forró, e pra ser mais exato, não apenas esses dois gêneros (que são os mais próximos), mas muitos outros existentes na música nordestina. Essa grande variedade de gêneros musicais se dá devido às influências variadas, à mistura de um estilo com outro, fazendo com que os próprios músicos a chamem de "música nortista".

A diferença básica apontada por todos os músicos quando indagados sobre a diferença entre o Baião e o Forró é que a batida do Baião é mais "quadrada", ou seja, tem menos balanço que o Forró, que também pela introdução da guitarra, e mesmo da bateria na sua orquestração, possibilitou que a música se "mexesse" mais. Um dos motivos que Dominguinhos expressa como empecilho, para que hoje não esteja se tocando Baião, é justamente o fato das pessoas não saberem o que é Baião e o que é Forró. É justamente aí que está a perda da "memória", ou seja, as pessoas perderam o referencial.

Origem da Palavra
A origem da palavra forró é controversa. Há a versão mais popular de sua origem, a de que o nome viria dos dizeres "For All" (em inglês "para todos"). Com a inauguração da primeira estrada de ferro no interior de Pernambuco pela companhia inglesa Great Western, foi feito um baile (ao som da sanfona e zabumba) para comemoração do acontecimento, promovido pela própria empresa, que convidava todos através dos dizeres afixados na entrada: "for all" (para todos). A partir daí então, passariam a chamar os seus bailes populares de Forró. Esta versão foi reforçada quando o cantor e compositor Geraldo Azevedo fez a canção "For all para todos" em 1983 e quando foi lançado o filme "For All- O trampolim da vitória" em 1998.

A segunda versão é dada pelo historiador e pesquisador da cultura popular Luís da Câmara Cascudo, que diz que a origem é o termo africano "forrobodó", que significaria festa, bagunça. Assim então eram chamados os bailes comuns frequentados pelo povo e, com o tempo, por ser mais fácil pronunciar, acabou se tornando, simplesmente, "forró". A razão de os historiadores, em sua maioria, confirmarem esta versão é o fato de que desde o século 17 já se falava em forrobodó, bem antes dos ingleses construírem suas malhas ferroviárias. Porém, como o poder de persuasão do rádio e da televisão são bem maiores que o dos livros, as pessoas tendem a acreditar na primeira versão.

O que mais constatou-se durante a pesquisa sobre a etimologia da palavra Forró, é que as pessoas conhecem Forró, como a palavra vinda mesmo de 'for all'. Isso mais uma vez reforça a influência que os meios de comunicação de massa tem sobre as pessoas de um modo geral.

Como Surgiram os Ritmos que Compõem o Forró

O baião: sua origem remonta ao século XIX, no nordeste do país, mas faltam informações precisas para esse início. Segundo muitos pesquisadores o baião teria surgido da união do maracatu africano, com o fado português, com uma forma especial de os violeiros tocarem lundu no interior do nordeste e com uma designação regional do samba. O termo baião referiria-se ao estado da Bahia e viria como uma variação do termo baiano. A popularização do ritmo se deu mesmo a partir da década de 40, com Luiz Gonzaga, pernambucano que veio para o Rio de Janeiro e gravou inúmeras músicas, que falavam do cotidiano nordestino.

Esse tipo de baião cantado sofreu influências de outros ritmos, como o samba e a conga. Nos anos 70, Gil e Caetano com o tropicalismo e o interesse em resgatar os ritmos genuinamente brasileiros, deram nova força ao baião. O baião apresenta diferenças regionais e de época. Existe o baião de Pernambuco, que é o tradicional, tocado com sanfona, triângulo e zabumba, cujos maiores representantes são Luiz Gonzaga e Dominguinhos. Já o baião de Fortaleza incorporou instrumentos mais modernos, como guitarra e bateria.

O xote:
Dança de salão de origem alemã, surgiu nos salões aristocráticos na época da Regência - final do séc XIX. Conhecido originalmente com o nome schottisch, dominou no período do Segundo Reinado incorporando-se depois às funções populares urbanas, passando a ficar conhecido como chótis e finalmente xote. Saiu dos salões urbanos para incorporar-se às regiões rurais, onde muitas vezes aparece com outras denominações.

O vanerão: é o forró dançado no sul do país. Caracteriza-se por ser uma dança em que os pares giram pelo salão com imensa mobilidade e rapidez.

As quadrilhas juninas: são de natureza rural, da tradição européia do culto ao fogo, anteriores ao cristianismo. A Igreja Cristã adaptou a festa de São João para absorver os cultos agrários pagãos. No Brasil a festa é acompanhada de muita música e dança: a quadrilha (dança das Cortes européias),o forró, o baião, o xote, o xaxado, e o Coco-de-Roda.

Atualmente o forró está sofrendo alterações em relação ao seu perfil original com o surgimento de novos grupos musicais e o sucesso que está fazendo entre os jovens. "A maioria destes grupos se formou após a febre da lambada, e a música que eles fazem é chamada de lambaforró ou oxentemusic. A dança também se modificou, assimilando passos da lambada (principalmente os giros)" afirma Dominguinhos. Diz, ainda, "que da mesma forma que o pagode ressuscitou sambistas antigos, como Martinho da Vila e Paulinho da Viola, os novos grupos de forró estão ajudando a divulgar o ritmo e suscitar interesse nos velhos mestres, como ele e Gonzagão". Podemos concluir, portanto, que o forró é um caldeirão de culturas de várias épocas e regiões que vai se modificando e se adaptando a cada geração.

O Xaxado
Nunca se chegou a um acordo sobre a origem do nome dessa dança popular. Uns dizem que ela vem do barulho das sandálias dos cangaceiros contra a areia do sertão. Outros garantem "de pé junto" que vem de sachar o feijão (limpar a terra em volta do pé), movimento semelhante aos passos do xaxado. Certo mesmo é que o xaxado é uma dança de guerra e entretenimento criada pelos cangaceiros de Lampião no inicio dos anos vinte do século passado, em Vila Bella, atual Serra Talhada, e arredores.

Ainda na época do cangaço tornou-se popular em todos os bandos de cangaceiros espalhados pelos sertões nordestinos. Era uma dança exclusivamente masculina - na época não havia mulheres no cangaço. As armas substituíam as damas e os "cabras", perfilados em fila indiana, respondiam aos versos cantados pelo chefe, que seguia na frente do grupo. Nas letras, insulto aos inimigos, lamentos pela morte de companheiros e o enaltecimento de suas aventuras e façanhas. A novidade logo se espalhou pelos inúmeros bandos de cangaceiros do sertão nordestino e o xaxado foi ganhando trejeitos locais no Ceará, na Paraíba e em cada canto onde era dançado.

"O encontro traz à tona essas diferenças, mesmo que no fundo o xaxado seja um só", diz. Para ele, o que marca a autenticidade do xaxado (um dos critérios para a participações dos grupos no encontro) é a batida, a forma de dançar e a formação da banda com sanfona, triângulo e zabumba.

Na primeira edição do encontro, em 2002, inscreveram-se apenas 20 grupos. Para esta, foram 60. "Aí tem a parte mais chata, que é a seleção dos grupos", diz Marx.. Tentamos sempre, mantendo a qualidade, trazer espetáculos inéditos e equilibrar a presença dos estados. Mas às vezes é difícil: nesta edição, por exemplo, mais de 50% dos grupos inscritos foi da Paraíba – explica.

Até hoje ele se lembra da surpresa no primeiro encontro, quando o público foi muito maior do que. "Ninguém esperava o sucesso que fez". E completa: "a quantidade de pessoas que foi assistir aos espetáculos nos deixou emocionados!".

Cinco anos depois, o Encontro Nordestino de Xaxado já é um evento consolidado, que faz parte da agenda cultural do sertão nordestino.

Por trás deste sucesso, a Fundação Cultural Cabras de Lampião e o grupo de xaxado homônimo. Criados para defender a cultura popular e, ao mesmo tempo, denunciar as crueldades sociais do sertão – "igual no tempo do capitão Virgolino" –, estão fazendo um belo trabalho na valorização dessa herança tipicamente nordestina.

Afinal, quem diria que um bando de "cabras", prontos para matar e morrer debaixo desse sol inclemente do sertão, fosse capaz de criar uma dança que conquistou todo nordeste?

O Coco
O Coco também é chamado "bambelô" ou "zamba". É um folguedo dançado na região praiana do Norte e do Nordeste, sobretudo em Alagoas. É uma dança de roda ou de fileiras mistas, de conjunto, de pares, que vão ao centro e desenvolvem movimentos ritmados, tendo como destaque o passo da umbigada que, ao ser realizado, anuncia a entrada de outros solistas no círculo. A percussão tem destacada presença na música da dança e é normalmente acompanhada por palmas e sapateados, hoje realizados com tamancos para imitar o barulho dos cocos quebrando.

Sua origem é bastante discutida, há quem afirme que aqui tenha chegado na bagagem dos escravos africanos e há quem defenda a teoria de que ela seja o produto do encontro da raça negra com o nativo local. Conta-se a história que os negros para aliviar as dores do trabalho de quebrar os cocos secos com os pés e embalados pelo barulho que faziam, cantavam e dançavam.

Apesar de mais freqüente no litoral, acredita-se que o Coco tenha surgido no interior de Alagoas, provavelmente no Quilombo dos Palmares, onde se misturavam escravos índios com africanos, no início da vida social brasileira (época colonial).

A dança do Coco continua sendo a expressão de desabafo da alma popular, da gente mais sofrida do Nordeste brasileiro. O Coco, a exemplo de outras danças tipicamente brasileiras, apresenta grandes variedades de formas. Variadas são as modalidades, conforme o texto poético, a coreografia, o local e o instrumento de música.

O Coco, a exemplo de outras danças tipicamente brasileiras, apresenta grandes variedades de formas. Em Alagoas é dançado de maneira bastante diferente do Rio Grande do Norte e da outra forma dançada na Paraíba. Além do Coco de Praia, Coco de Roda, Coco de Sertão. Sua natureza porém não é alterada. É uma festa viva e alegre, embora não apresente riqueza de ritmo nem de melodia.

Indumentária:
Cavalheiros: calça listrada ou de xadrez, de boca estreita, camisa de meia, sandálias, chapéu de palha. Damas: vestido estampado de cor alegre, mangas fofas, saias bastante rodada, com babados, sandálias.
Instrumentos musicais: zabumba (tambor) "pife", flauta, ganzás, chocalho, viola, pandeiro, etc.

Coreografia: dançam em roda homens e mulheres, alternadamente; o solista no centro. Os pares se sucedem. A dança é mais um sapateado, acompanhado de palmas.

Veja também:
Frevo e Maracatu
Ciranda e Nau Catarineta
Dança do Lelê



10 comentários:

  1. Valeu marcos pelo elogio ao nosso Blog Periecos Brechó...

    Muito bom seu blog e é sempre bom tentar manter nossa cultura a vista do povo.

    Gratos
    Blog Periecos Brechó

    ResponderExcluir
  2. Adicionado ao meu blog com muito carinho e respeito.

    Cuide-se

    Maravilhoso texto, uma verdadeira viagem para aqueles q estão tão longe do sertão, como eu.

    ResponderExcluir
  3. Agradeço a você Espiral e a você Leo pela gentileza! Espero a contribuição de todos para o enrequecimento do Cultura nordestina! Abraços.

    ResponderExcluir
  4. Marcos França, meu xará!
    Retribuo a visita a Mundo Cordel. Espero que vc não se incomode de eu replicar alguns posts seus por lá. Gostaria de obter seu e-mail de contato, para trocarmos idéias e parceria dos blogs. Um abraço.

    Mairton

    ResponderExcluir
  5. Meu chará e compadre Marcos, pode replicar o post que você quiser. Fique a vontade! Abraços.

    ResponderExcluir
  6. adorei todas as informaçoes postas aqui........

    ResponderExcluir
  7. nada a ver com que eu queria saber :@

    ResponderExcluir
  8. Só fui conhecer esse blog agora e adorei . Visite tb o meu www.sertaodesencantado.blogspot.com
    Quero tb lhe seguir

    ResponderExcluir
  9. Parabéns, pelo resgage da história de nossa música

    ResponderExcluir

Regras:
- O comentário precisa ter relação com o assunto;
- Para propostas de parcerias ou respostas sobre esse assunto, favor usar o Formulário de Contato.