30 março 2008

Comadre Florzinha, o romance da Serra das Flechas

Um homem da cidade perambulando na mata é sempre suspeito, principalmente se não levar uma espingarda ou qualquer outro aparato da prática extrativista. Este homem é um jovem advogado, recém formado, que sai de João Pessoa nos idos dos anos 50 para se embrenhar no interior da Paraíba em busca de pesquisar arqueologia e seu destino o leva a selvagem serra das Flechas, no interior do município de Pedra Lavrada.

Enquanto o pesquisador dorme calmamente em sua rede de campana, uma filha da mata, de olhos luzentes, crescidos de assombro e fiel a todos seus instintos, fita curiosa o misterioso homem, se saber determinar-lhe os objetivos. Para a bela e lendária Comadre Florzinha, se trata de uma imagem nova na noite selvagem, inédita em suas reminiscências mentais, que se apresenta como sedução irresistível para um processo dedutivo de assimilação.

A duende, ao vê-lo acordar, questiona intrigada sobre suas intenções em sua floresta. E assim, se desenrola um instigante romance entre estas criaturas, tão distantes e ao mesmo tempo tão próximas, nas brenhas da caatinga paraibana.

Este é o enredo do cordel "Coamadre Florzinha, o romance da Serra das Flechas", folheto de 133 setilhas poéticas em rimas toantes alternadas de autoria do historiador-poeta Vanderley de Brito, de Campina Grande-PB e é uma adaptação romântica para decantar este mito sertanejo do interior paraibano. Um cordel que, além de divertir, educar e resgatar uma tradição, como é característico de gênero literário, também provoca emoções e desperta desejos.

Numa mistura de ficção e realidade, o autor leva seu personagem a passear pela geografia paraibana e utiliza fatos históricos para que seu romance se enquadre num contexto temporal e físico da História e, com uma habilidade incrível, cria cenários pitorescos envolvendo fauna e flora do semi-árido seridoense.

Na visão deste historiador, a Comadre Florzinha, além de ser uma defensora ferrenha do ecossistema, é também uma fêmea, e como tal, sujeita a um amor fulminante e aos desejos e palpitações que o sexo desperta. Acostumada a surrar cães e seres humanos brutos e transgressores das leis da mata, ela encontra no pesquisador um homem compreensivo e cúmplice no desejo de manter a integridade dos animais e da flora silvestre.

Daí, enquanto o estudioso se mantém em sua catalogação científica, eles se encontram diariamente, nas noites frias da caatinga, para demoradas conversas sobre o meio-ambiente, suas belezas, mistérios e, principalmente, sobre a forma que o processo contínuo e avassalador de degradação ambiental está em processo. Esta afinidade ideológica acaba por se desfechar numa paixão proibida entre a entidade mística e o homem da ciência.

O texto poético vai se tornando mais saboroso quando se iniciam os preâmbulos da conquista, aperitivos de uma necessidade de excitação á junção conubial que é, imagino, inevitável entre este casal nos esmos da mata odorífica do sertão.

O cordel faz parte da série arqueológica, idealizada pelo autor, e é a quarta publicação do gênero da Sociedade Paraibana de Arqueologia. Já está disponível nas bancas de revenda e vem sendo muito elogiado pela crítica literária, até aqueles mais ortodoxos estão aplaudindo as inovações que Vanderley vem trazendo à literatura de cordel.

O trabalho, apesar de lidar com tema sertanejo e, às vezes, trazer a linguagem coloquial do meio rural, é deliciosamente erudito. Citando autores clássicos como Camões, Augusto dos Anjos, Ariano Suassuna, Clotilde Tavares e Câmara Cascudo, numa poesia métrica rebuscada, que é uma de suas marcas registradas de Vanderley de Brito. Este poeta-historiador, desde seu primeiro trabalho pretende restaurar a evidência do gênero trazendo-o para o academicismo, pois, segundo afirma:

“O cordel perdeu sua característica de jornal do sertão, pois o matuto não mais lê cordel, agora ele vê televisão. Quem lê é o erudito e, por isso, é necessário que o cordel se adapte às exigências de quem aprecia a boa literatura”.


O autor também afirma que não está descaracterizando a Caipora, pois, segundo suas perspectivas, a Comadre Florzinha só é vista como uma assombração zombeteira e cruel pelos homens rurais, pois são estes os principais interessados em subtrair da floresta a lenha e a caça e, naturalmente, estes são também os que sofrem os rigores da ira da duende. “Se olharmos por outro prisma, a Comadre Florzinha é uma defensora das matas, uma ecologista ativa. Portanto, uma entidade do bem”.

Autor: Vanderley de Brito



4 comentários:

  1. limda d+ emily

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  2. Eu gosto muito dela ela é minha melhor amiga eu gosto muito dessa comadre florzinha e nunca irei esqueçer ela por que eu gosto muito dessa amiga que ela é [Te adoro Comadre Florzinha ]

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  3. gostei de mais do testo parabens vc é um grande autor

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  4. Prezadíssimo autor, "conterrâneo" Vanderley de Brito!

    Vim por aqui após adentrar a biografia do Poeta Jessier Quirino, seguindo sugestão da grande AMIGA, "adquirida" no RECANTO DAS LETRAS (www.recantodasletras.com.br), também "conterrânea", e ser direcionado para o Blogspot da Cultura Nordestina (http://culturanordestina.blogspot.com.br/search/label/Contos)...
    Em verdade, ando (creio que como a grande maioria da população brasileira...) um tanto quanto carente do "vil metal" e, em sendo assim, gostaria de saber se há possibilidade de ler esta sua interessantíssima obra de uma forma internáutica, sem ônus!rs
    Antecipo-lhes meus agradecimentos por uma eventual resposta.
    Auguro-lhes excelente sequência de publicações, bem como na sequência de suas concepções/compartilhamentos/postagens!
    Respeitosos abraços...
    Tudo de bom SEMPRE, fiquem com Deus SEMPRE e,..., até de repente!

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