03 setembro 2007

Bode vai ganhar estátua em município de Sergipe

Ele deveria se transformar numa buchada, prato típico da culinária nordestina, mas acabou virando atração na cidade e ganhando fama nacional e até internacional. Bode Bito, o famoso bode de Riachão do Dantas, a 99 km de Aracaju, vai ganhar estátua com direito a pedestal na entrada da cidade e solenidade de inauguração.

O animal morreu no dia 29 de julho e esta será a homenagem da cidade ao bicho que mais ajudou a divulgar a pequena Riachão do Dantas, de apenas 20 mil habitantes. "Assim que o bode morreu solicitei na Câmara que a prefeitura construísse um busto do animal. Foi um pedido do povo como uma forma de deixar a marca dele na cidade. Bode Bito se foi, mas a sua história ficará para sempre", justifica o vereador José Edson de Almeida (PR), autor do requerimento no Legislativo.

O prefeito de Riachão, Laelson Menezes (PTdoB), mandou confeccionar a estátua na Paraíba. A obra foi construída em concreto armado e ficará exposta no trevo de acesso à cidade. A solenidade de inauguração vai acontecer no dia 9 de setembro durante o desfile cívico dos estudantes do município. "A inauguração da estátua vai estar inserida na programação oficial da prefeitura, com direito, inclusive, a discurso", antecipa Menezes.

"Acho uma homenagem justa. Hoje, se você acessar a Internet e digitar Bode Bito vai encontrar milhares de imagens e vários sites com a história dele. Isso tudo ajudou a propagar o nome de Riachão", afirma o servidor público Abraão Moreira Lima.

Um animal diferente
Mas qual a razão para um animal ganhar uma estátua no ponto mais nobre de um município? Bode Bito era um caprino diferente. Não gostava de viver preso junto a outros animais da sua raça nem de comer ração ou capim. Andava solto pelas ruas e cultivava amizades com as pessoas, que se acostumaram a vê-lo entre uma casa e outra atrás de um agrado. Gostava de biscoitos, balas e milho.

Bode Bito ganhou fama mesmo por gostar de participar de velórios, passando toda a madrugada em sentinela junto com familiares e amigos do morto, e a acompanhar os enterros e procissões religiosas. Não perdeu um sepultamento ou procissão nos seus 20 anos de vida.

"Acredito que ele fazia isso não por saber distinguir o que era um velório, mas por gostar de estar entre uma aglomeração de pessoas. Ele se sentia bem naquele meio porque muitas vezes saía um lanche e as pessoas o serviam. Isso tudo atraia a sua atenção", conta o comerciante Joélio Gonçalves de Araújo, ex-dono do animal.

Segundo o ex-proprietário, Bode Bito se mostrou ser um animal diferente aos poucos. O caprino foi adquirido a um feirante que o levou para a feira de Riachão.

"Comprei o bode para engordá-lo e fazer uma buchada. Só que com o decorrer do tempo ele passou a se comportar diferente. Gostava de beber leite em uma vasilha que deixava aqui na calçada e de comer milho. Depois ele passou a acompanhar as pessoas e com isso ganhar o carinho da população. Com o tempo fiquei impossibilitado de matá-lo para fazer a buchada", lembra Joélio Araújo.

Bode virou ator
Na cidade o animal ganhou até uma festa, a Festa do Bode, que esse ano chegou à sua oitava edição. Em outubro do ano passado foi mais longe e virou história no cinema. A ex-vice-prefeita da cidade, Fátima Góes, dirigiu o documentário "Deu Bode", que foi um dos 40 selecionados pelo projeto Revelando Brasis, do Ministério da Cultura. Idealizadora da festa, ela promete manter a tradição anual, mesmo com a morte de Bode Bito. "É o mínimo que podemos fazer", alega.

Existem muitas histórias envolvendo o bode de Riachão, mas poucas se destacam como a sua prisão, determinada pela juíza da cidade em 1998. A magistrada baixou uma portaria proibindo os donos de animais de soltar seus bichos pela cidade. Cavalos, bois e caprinos deveriam ficar presos, sob pena de prisão do proprietário. "Tive que prender Bode Bito no pasto. Como as pessoas sentiram a falta dele, vinham aqui em casa para visitá-lo. Ele não gostava de ficar preso e já estava há dois dias sem comer nada", conta.

A população começou a se preocupar com o animal e o clamor local chegou até a juíza. "Na época só havia telefone na agência do Banco do Brasil. A juíza estava em Aracaju e certamente teve a informação da repercussão da prisão do bode. Ela então ligou para o gerente informando que Bito estava liberado. Foi a única exceção na cidade", recorda Joélio.

Morte lenta
Os últimos dias do Bode Bito foram de sofrimento. Vítima de uma inflamação nas articulações, provavelmente pela grande quantidade de milho que comeu em vida, ele já estava sem andar há cerca de um mês antes de morrer. "Ele quase passou dos 20 anos, superando, inclusive, a média de vida do caprino que é de 17 anos. Se for comparar isso à idade de um ser humano, Bode Bito já estava com seus 90 anos", afirma Joélio.

O animal, que estava sendo tratado nos fundos da loja de produtos agropecuários do ex-proprietário, faleceu do sábado para o domingo. "Fizemos de tudo para mantê-lo vivo, mas quando cheguei pela manhã ele já estava morto", diz. Bode Bito foi enterrado nos fundos da casa de Joélio e, por vontade dele, sem nenhuma cerimônia especial.

Terra


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