Boi Garantido desafia o contrário

Sou Garantido primeiro

Declamo a mais linda toada

Sou dono deste terreiro

Do encanto da batucada

Meu boi Bumbá é guerreiro

Não temos medo de nada.

Contrário fica calado

Não venha me atrapalhar

Respeita esse meu reinado

E ponha-se no seu lugar

Recolhe esse boi acuado

E senta pra me admirar.

O meu boi é mais querido

É raça é força e é fé

Tira esse olho comprido

Teu boi só dança balé

Eu sou do boi garantido

Da baixa do são José.

O Garantido é a lenda

Dos altos da nossa memória

Quem quiser que aprenda

Como se vive de glória

Meu boi fugiu da fazenda

Só pra entrar pra história.

Meu boi não foge da rinha

Cuidado que ele se zanga

Contrário tira essa vaquinha

E avisa pra tua baranga

Aqui é que tem sinhazinha

E a beleza da cuinhãporanga.

Meu coração é valente

Não venha me desafiar

Com esse bezerro carente

Que acaba de desmamar

Encarar o Garantido de frente

É preciso muito mais tacacá.

Tira esse boi vigarista

Que a festa vai começar

É show dos nossos artistas 

Bandeiras se agitam no ar

Chegou o rei das conquistas

Garantido é o meu boi bumbá.

Contrário já está de joelho

Já ouço até seu gemido

Quem não se olhou no espelho

Se curva arrependido

Diante desse mar vermelho

Do reino do boi Garantido.

Lindolfo então criaria

 A mais completa paixão

O Garantido nascia

Trazendo o seu coração

Em forma de poesia 

Pra enfeitar meu São João.

Meu boi é branco e encarnado

As cores que me convém

Não perco esse meu reinado

Tenta no ano que vem

Teu canto foi desafinado

E a toada não engana ninguém.

O Garantido desafia o Contrário II

Boi contrário chegou

Cantando a sua embolada

Mas logo ele se calou

Porque não estava com nada

E ele também se curvou

Ao canto da nossa toada.

Vermelho é o sangue da terra

As cores do meu boi bumbá

Quando a festa se encerra

É hora de comemorar

Meu boi vencerá essa guerra

Pra aquele boizinho de lá.

Contrário não entra em cena

Faz pena até de olhar

A tua torcida é pequena

Para de me imitar

Eu sou campeão dessa arena

E da cultura popular.

Garantido é a fonte da vida

Herança lá de Portugal

Orgulho da nossa torcida

Gigante do meu festival

E digo pra vaca bandida

E cantar em outro curral.

Sou da baixa do são José

Sou do mais indo cenário

E aquele boizinho qualquer

Não entra no meu calendário

Eu vou pedir pro pajé

Exterminar o boi contrário.

Sou a oitava maravilha

Vermelho da tradição

Touro feroz dessa ilha

Gênio da imaginação

Se aquela estrela não brilha

É medo do meu coração.

Não entra nesse meu rodeio

Você vai sair bem ferido

O bumbodrómo  já está cheio

Encantado com o boi mais querido

Enquanto o contrário é tão feio

É lindo o meu boi Garantido.

Os tambores começam a rufar

O silêncio contrário é profundo

Fogos que queimam no ar

Assusta esse boi moribundo

Garantido vai se apresentar

No maior espetáculo do mundo.

Aquele boizinho é de cobre

Diante o gigante de ouro

Vermelho tu és a cor nobre

Do brilho do nosso tesouro

E aquele bezerro tão pobre

Não vence a riqueza do touro

Quando a bandeira se agita

Tem boi pintando na tela

A cunhã poranga é bonita

Assim como a morena bela

Garantido mantém a escrita

Matando esse boi da favela.

Quem nega a pele vermelha

Se perde na escuridão

É ato que não se espelha

É fruto de uma traição

Em breve ele se ajoelha

E volta pedindo perdão.

Garantido é o rio

Que vem desaguando no mar

É a árvore que mais floriu

Com frutos pra te ofertar

E o boi que não contribuiu

A gente vai ter que matar.

Contrário me dê licença

Recolhe esse boi falastrão

Se a tua cabeça não pensa

Vê o que é apresentação

Paga essa tua sentença

E aplaude o meu boi campeão.

Aquela estrela esquecida

Que não brilha jamais

Precisa até ser polida

Com o pincel do satanás

Vermelho é sangue da vida

E branco é o manto da paz.

Canta meu boi verdadeiro

Canta pra mãe caterina

Pai Francisco cruzou o banzeiro

Pra viver a paixão cristalina

E manda esse boi forasteiro

Cantar no deserto da China.

O contrário anda torto e desatento

No relento puxando uma sacola

Pedindo esmola nos quatros cantos do vento

Seu sofrimento só termina na degola.

Autor: Guibson Medeiros