Saudade é tudo que fica daquilo que não ficou

Saudade é tudo que fica daquilo que não ficou
(Júnior Vieira)

Viver é o simples almejo,
Que nossa matéria sente,
Pois não existe um vivente
Que não sinta esse desejo;
É no abraço, é no beijo,
No amor que se acabou,
Na paixão que não durou,
No sexo que se pratica,
Saudade é tudo que fica
Daquilo que não ficou.

E por falar em saudade,
Ainda tenho lembrança,
De quando eu era criança,
Quando eu brincava à vontade;
Vovó ia pra cidade…
Tanto doce ela comprou…
Tantas vezes me beijou…
Eu me banhando na bica…
Saudade é tudo que fica
Daquilo que não ficou.

Saudade do amor bandido,
Saudade do amor sincero,
Daquele quero, não quero,
Do sussurrar no ouvido,
Daquele abraço fingido,
Que alguém deu, mas não gostou,
Apenas cumprimentou,
Muito embora tiririca,
Saudade é tudo que fica
Daquilo que não ficou.

Quando a gente é miudinho,
Não sabe um décimo da vida,
Qualquer estrada é florida,
Nem na rosa existe espinho,
E agora o tempo mesquinho
A minha idade aumentou,
Hoje velho como estou,
Tudo na vida complica,
Saudade é tudo que fica
Daquilo que não ficou.

A criança brinca, corre,
Dá gritos, faz peraltice,
No tempo de meninice
Ninguém nem pensa que morre;
Fica adulto, toma porre,
Envelheceu, piorou,
A mente desonerou,
Em qualquer coisa tropica,
Saudade é tudo que fica
Daquilo que não ficou.

Muito raro um ancião
Libera um sorriso franco,
Alisa o cabelo branco
Escorado num bastão,
Bota a mão no coração
Vê que a pressão aumentou,
Diz ele: a vista cansou,
Não tá valendo xinica,
Saudade é tudo que fica
Daquilo que não ficou.

Ah! Que saudade qu’eu sinto,
Da saudosa juventude,
Sinto que a minha saúde
Se perdeu num labirinto,
Até o cabelo eu pinto
Pra dizer que não mudou,
Mas o juízo afracou,
Vivo falando aritica,
Saudade é tudo que fica
Daquilo que não ficou.

Nossa vida é um degredo,
Um enigma permanente,
Só o Pai onisciente,
Desvenda o grande segredo,
Por isso todos têm medo
Do que o Rei profetizou…
Alguém não creu, não ligou,
Mas vem a morte e explica,
Saudade é tudo que fica
Daquilo que não ficou.

Ainda sobre o tema da saudade, o saudoso poeta Patativa do Assaré, disse assim:

“Saudade dentro do peito
É como fogo de munturo.
Por fora tudo perfeito,
Por dentro fazendo furo”

E o grande e famoso poeta da saudade, Antônio Pereira, disse:

“Saudade é um parafuso
Que quando na rosca cai,
Só entra de for torcendo,
Porque batendo não vai
E quando enferruja dentro,
Nem destorcendo não sai”