Festa do Repente e do Repentista em Campina Grande

A Cantoria é um debate ou peleja, em versos improvisados, cantados geralmente por uma dupla de repentistas. Ela tem regras e gêneros que são seguidos fielmente pelos cantadores, que não vão simplesmente rimando versos aleatoriamente. Eles obedecem a uma estrutura rítmica de acordo com o gênero da poesia escolhido naquele determinado momento. São Décimas, Sextilhas, Mourões, Martelos, Galopes e muitos outros que têm que ser cantados obedecendo suas toadas, métricas e rimas.

Para mim, o mais bonito é o Galope à Beira Mar. Foi criado pelo cearense José Pretinho e é constituído de uma estrofe de dez versos de onze sílabas. Seu último verso tem o estribilho "Galope a beira mar" ou uma expressão equivalente, mas desde que termine com a palavra "Mar". Também obedece a seguinte ordem de rima: ABBAACCDDC. Sua deixa está no 9º verso. Vejam um exemplo:

"Ali na cabana de alguns pescadores
Fitando a beleza do mar, do arrebol,
Bonitas morenas queimadas de sol,
Alegres ouviram cantar meus amores.
O vento soprava com leves rumores,
O pinho a gemer, depois a chorar.
Aquelas morenas à luz do luar
Me davam impressão que fossem sereias,
Alegres, risonhas, sentadas nas areias,
Ouvindo meus versos na beira do mar".

(Dimas Batista)

O primeiro cantador brasileiro que se tem notícia foi Ugolino do Sabugi, que nasceu na Serra do Teixeira por volta do ano de 1840. Foram seus contemporâneos os poetas Germano da Lagoa, Romano de Mãe D` água., e Silvino Pirauá. Atualmente existem muitos que se dedicam a essa arte. Alguns deles são famosos em todo o país.

A astúcia e o raciocínio rápido são atributos essenciais para um bom cantador. A memória desses artistas populares tem uma precisão surpreendente. Passam um tempo danado atacando e se defendendo, respondendo charadas, recitando trava-línguas e desfazendo insultos.

Essas pelejas não têm mais aquela valorização de outrora, mas elas têm resistido ao tempo e ainda mantém sua importância como cultura. Atualmente existem articuladores em defesa dos direitos da classe, os quais têm propostas e buscam ampliar os canais de divulgação dessa cultura para atingir novos públicos. E uma grande forma de divulgação é com a realização dos festivais, que ocorrem geralmente nos palcos de teatros, clubes sociais ou centros de convenção. Nesses eventos existe uma mesa julgadora composta por poetas, apologistas, artistas ou organizadores, os quais conhecem profundamente todas as regras e modalidades da Cantoria. São essas pessoas que decidem a competição. Os critérios analisados são: desenvoltura, rima, métrica e oração (assunto).

E assim, como uma forma de divulgação dessa cultura, será realizado nesta sexta e sábado (16 e 17), a partir das 20:00, no Teatro Municipal Severino Cabral, em Campina Grande, o 30º Congresso Nacional de Violeiros. Promovido pela Associação de Repentistas e Poetas Nordestinos (ARPN), o evento traz os maiores nomes da cantoria da atualidade. O público terá a oportunidade de assistir a apresentação de 8 duplas de cantadores de todo o Brasil, além de dois declamadores.

As duplas que se apresentam nesta sexta (16) são: Ivanildo Vila Nova e Raimundo Caetano, Sebastião da Silva e Zé Cardoso, João Lourenço e Rogério Meneses, Louro Branco e Erasmo Ferreira. No sábado (17) será a vez de Sebastião Dias e João Paraibano, Raullino Silva e Valdir Teles, Severino Feitosa e Zé Viola, Geraldo Amâncio e Moacir Laurentino. Umas das atrações deste ano são o repentista Geraldo Amâncio, conhecido pela sua habilidade com o improviso e da maneira peculiar de cantar o gênero do galope à beira mar, e Ivanildo VilaNova, considerado um dos maiores repentistas do Brasil e autor de "Se o Brasil For Dividido e o Nordeste Ficar Independente", que ficou nacionalmente conhecido na gravação de Elba Ramalho.

Os ingressos custam R$ 10,00 (inteiras) e R$ 5,00 (meias). Vamos prestigiar nossos repentistas. Aposto que ninguém sairá arrependido.