19 outubro 2007

Pelos Caminhos dos Engenhos

No último fim de semana, resolvemos (eu e minha esposa), fazer um passeio turístico e cultural pelo interior paraibano, visitando aquelas cidades do Brejo que foram as principais responsáveis, naquela região, pela chamada "civilização do açúcar". As cidades que fizeram parte do roteiro foram: Alagoa Grande, Areia, Bananeiras, Borborema, Solânea, Serraria, Pilões e Arara. E os pontos turísticos/culturais visitados foram os seguintes:


Alagoa Grande
Teatro Santa Ignês: Situado entre os casarões antigos, é o terceiro teatro mais antigo da Paraíba. O proprietário rural e político Apolônio Zenaide Montenegro foi quem mandou construí-lo. Em estilo italiano e arquitetura interior em pinho de riga, teve sua construção iniciada em 1902 e foi inaugurado em 1905. Ainda hoje é o local onde se concentram as manifestações artísticas do município. Em 1979 foi tombado pelo Patrimônio Cultural da Paraíba.

Casa de Margarida Alves: É um museu que reúne um acervo sobre a sindicalista conhecida internacionalmente e assassinada brutalmente por pistoleiro a serviço de latifundiários da região. O local visa resgatar a memória e servir como referencial para as associações e estudiosos da questão agrária do Estado.

Igreja Matriz: É uma obra centenária. Dedicada a Nossa Sra. da Boa Viagem, teve sua construção iniciada em 1861 pelo Frei Alberto de Santa Augusta Cabral, primeiro vigário da paróquia, e concluída em 1868. Fica no centro da cidade, em frente à praça Dom Adauto. Construída em estilo colonial, impressiona pela beleza e grandiosidade de sua arquitetura. Em seu interior pode-se admirar várias peças e objetos revestidos em ouro.

Casario: A cidade possui um bem conservado Centro Histórico tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico, onde são encontradas casas da época da fundação da cidade, em estilo neoclássico que mistura o barroco colonial com outras influências européias. Alguns desses prédios ainda conservam azulejos portugueses em suas fachadas, prova de um poderio econômico de uma época onde a cidade já foi uma das mais importantes da região.

Engenho Lagoa Verde: Muito bem conservado e em plena atividade, produz a conhecida Cachaça Volúpia. Um guia local nos mostrou todas as suas dependências. Seu processo de fabricação é rigoroso com a busca da qualidade, desde a plantação da cana-de-açúcar até o engarrafamento. A cana-de-açúcar é selecionada entre os tipos mais ricos em sacarose e depois adubada exclusivamente com matéria orgânica. Teve degustação à vontade e inteiramente grátis, de variados sabores, provenientes dessa cachaça adicionada a várias espécies de frutas. O local também oferece várias lembranças que podem ser compradas numa lojinha em suas dependências. Nosso almoço foi servido ali mesmo e depois tivemos à nossa disposição várias redes de dormir armadas nas varandas, para quem quisesse dormir ou apenas descansar depois de se fartar com as comidas regionais.


Areia
Museu da Rapadura: Está localizado no Centro de Ciências Agrárias da UFPB (Campos III), no lugar onde funcionava um engenho açucareiro do século XVIII (Engenho da Várzea). O local, aberto à visitação pública, mantém preservados as instalações e todo o maquinário utilizado para a fabricação da rapadura, do açúcar mascavo, do mel e da aguardente, além de um alambique de barro, que destilava cachaça para uso exclusivo dos seus antigos proprietários. Lá o turista aprende sobre todo o processo antigo da fabricação desses produtos.

Museu do Brejo: Também está localizado no Centro de Ciências Agrárias acima citado. É um antigo casarão onde funcionava a Casa-Grande do Engenho da Várzea, onde se pode ter uma idéia da arquitetura rural da época. No seu acervo está a memória iconográfica e objetos representativos dos engenhos de cana-de-açúcar do Brejo Paraibano. O local retrata os costumes da época. Em frente desta casa existe um antigo relógio de sol, que orientava seus moradores sobre as horas no transcorrer do dia.

Teatro Minerva: Seu primeiro nome foi Recreio Dramático. Depois foi modificado para Teatro Minerva, que é uma homenagem à deusa das artes e foi dado pelo areiense Horácio da Silva. Foi construído em 1854 pelas famílias mais ricas do lugar, com capacidade para cerca de 250 espectadores, sendo o primeiro teatro da Paraíba. Nos seus tempos áureos foi palco de grandes apresentações. Atualmente se apresentam o grupo de teatro local, o grupo de tradições folclóricas e peças de todo o Estado. O teatro é um dos responsáveis direto pela influência cultural que sempre existiu no município. Ainda mantém preservada sua arquitetura original, apesar de já ter passado por várias reformas.

Museu Casa de Pedro Américo: Localizado na Rua Pedro Américo, foi a casa onde o grande pintor paraibano nasceu em 1843 e viveu até os nove anos de idade. Em 1943 foi desapropriada, passando a funcionar como museu. A casa, de original, só resta a fachada, mas seu interior guarda réplicas das suas principais obras e objetos pessoais, como tinteiros, manuscritos originais, anotações e fotos. Uma curiosidade é a existência de uma garrafa de conteúdo desconhecido e que nunca foi aberta e que veio para o Brasil junto com seus restos mortais.

Casarão de José Rufino: É um autêntico monumento do século XIX, localizado na Praça Pedro Américo, nº 78, no centro da cidade. O prédio tinha uma senzala (hoje preservada) e também serviu de "vitrine" para a compra e venda de escravos. O historiador Horácio de Almeida nasceu num dos quartos desse casarão. Também foi nesse local que funcionou o Fórum da Comarca de Areia. É uma das mais antigas construções da cidade. Esse casarão já foi conhecido como "Solar do Marinheiro Jorge" e "Casa do Major José Rufino.

Igreja-Matriz: Edificada para homenagear a padroeira da cidade, sua construção teve início com uma capela no ano de 1800, em um terreno doado por Bartolomeu da Costa Pereira. Com o passar do tempo foi sendo reformada várias vezes e é hoje um dos prédios mais bonitos da cidade. Além da arquitetura externa, a igreja tem um magnífico altar e um teto revestido por belas pinturas representando passagens bíblicas.

Bar do Chifre: Tradicional bar da cidade, que serve uma cerveja estupidamente gelada acompanhada de excelentes petiscos e onde, segundo o proprietário, "todos os chifrudos ou não, são bem vindos".

Engenho Triunfo: Seus atuais proprietários são Antonio Augusto e sua esposa Maria Júlia. E foi ela própria quem nos guiou pelas instalações da propriedade, contou a história do engenho e as dificuldades iniciais e nos mostrou os equipamentos usados pelo casal no começo da produção. São máquinas criadas pelo próprio marido. De moedor de carne a secador de cabelo, tudo era aproveitado pelo empresário-inventor no início do negócio. O filho mais velho do casal, estudante de Engenharia Química, conseguiu desenvolver uma forma de transformar a cachaça de cabeça em álcool combustível, que é utilizado nos carros dos proprietários. Passado o período difícil do começo, o Engenho Triunfo possui modernos equipamentos, recebe atualmente centenas de pessoas por mês e produz a Cachaça Triunfo, uma das melhores do Nordeste, que tem toda sua produção vendida imediatamente.

Engenho Mineiro: Foi em 1880, aproximadamente, que foi construído o Engenho Mineiro. Testemunha dos vários ciclos agrícolas vividos no Nordeste brasileiro, hoje a construção histórica, com traços do período colonial, resiste ao tempo e produz rapadura pura, sem ingredientes complementares. Seu Haroldo Barreto, 82 anos, é o atual dono da propriedade. A casa grande está totalmente conservada. Ali, história e memória se encontram harmonicamente, apesar das perspectivas nada otimistas para o mercado da rapadura. É pelas mãos do filho Gutenberg Barreto que o Engenho Mineiro tem vislumbrado boas perspectivas. Como um guia que sabe muito bem o valor histórico e familiar que a propriedade tem, ele explicou todo o processo de produção da rapadura. Também são produzidos caldo de cana, doces e queijos, que são comercializados, bem como oferecidos aos visitantes, acompanhados de sucos, bolos, frutas e outras iguarias com um excelente sabor caseiro.


Bananeiras

Cruzeiro de Roma: Trata-se de uma capela construída em 1899 pelo Capitão Joça Rodrigues, em homenagem à Sagrada Família, após ter alcançado uma graça. Situada no topo da Serra da Cupaóba, também é conhecida como "Outeiro de Roma" ou "Capela da Sagrada Família". Está conjugada a uma residência franciscana, que se transforma em ponto de encontro de romarias nos meses de setembro a novembro, atraindo adeptos do turismo religioso. O local serve também como mirante, com visão geral da cidade e região. É um dos pontos de passagem dos peregrinos que fazem "Os Caminhos do Padre Ibiapina".

Igreja Nossa Sra. do Livramento: Construída no alto de uma colina, é a Igreja matriz da cidade e foi construída em honra à sua padroeira. Inaugurada em 1861, foi erguida pelo missionário Herculano Vieira, com a ajuda do padre Ibiapina. Esse templo fica no mesmo lugar onde foi erguida a primeira capela do lugar. Pela sua imponente arquitetura percebe-se a riqueza que a cidade teve no passado.

Carmelo Sagrado Coração de Jesus e Madre Tereza: É um magnífico prédio secular, que se destaca pela sua grandiosidade e imponência arquitetônica. Ali funcionou um antigo Colégio, que foi transformado em Carmelo com a chegada das irmãs carmelitas, em 1999, procedentes da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. Uma dezena de monjas moram em suas dependências, em regime de clausura e em constantes orações, sobrevivendo de doações e confecções de artesanato. Isso tem se constituído como atrativo turístico, principalmente depois que foi destaque nacional em várias matérias divulgadas por uma rede de televisão.

Antiga Estação Ferroviária: Construída pela Great Western off Brazil na década de 20, é outro símbolo do passado da cidade. Hoje seus trilhos de ferro não mais existem. Esse prédio, que preserva seu aspecto original, foi transformado num pequeno hotel, de aspecto bucólico, que recebe os turistas que aparecem por lá. Os chalés que serviam de moradia provisória para as tripulações ferroviárias em trânsito ainda estão bem conservados nas imediações da estação.

Túnel Ferroviário: Não chegou a ser concluído nem usado, mas ainda está intacto o antigo túnel que teria trilhos e que atravessa as montanhas rochosas. Dizem que companhia foi à falência durante os serviços de escavação, razão pela qual os trabalhos foram interrompidos.


Borborema

Igreja-Matriz: Está situada no topo de uma elevação que domina toda a cidade e é o mais imponente e importante prédio da cidade. Já passou por várias melhorias e reformas. Chega-se até ela subindo por uma grande escadaria, cujo parapeito é adornados por várias estátuas que representam alguns santos, profetas e antigos patriarcas hebreus.


Serraria
Engenho Martiniano:
Está de fogo morto, mas seus atuais proprietários estão produzindo a Cachaça "A Cobiçada", de grande aceitação em toda a região. Os restos mortais de seus fundadores (Francisco Duarte e sua esposa Josefa Duarte) estão enterrados na capela da propriedade, que está bem conservada. Sua casa grande também se encontra em perfeito estado. Os visitantes podem degustar à vontade as duas formas dessa aguardente (normal e envelhecida), que também pode ser comprada no local em embalagem para exportação.

Engenho Baixa Verde: Com uma arquitetura imponente, mantém o seu aspecto original, com capela, casa curada, senzala, antigo barracão, maquinário e casa grande com portentosos gradis que no passado guardavam um pátio que servia para a secagem do café produzido na propriedade. Está situado no sopé da serra que dá acesso à cidade de Serraria. Nas áreas dessa propriedade encontram-se reservas de mata atlântica com árvores centenárias, clareiras e pedras gigantes. O local é propriedade privada da família Spínola, mas os visitantes são bem vindos, desde que comunicados antecipadamente.

Portal da Glória: Trata-se de um monumento a um filho da terra, o ex-combatente José Diogo Pereira, que lutou na Itália na Segunda Guerra Mundial, junto com a FEB, sendo gravemente ferido em batalha.

Igreja-Matriz: A igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus no começo do povoamento da região era uma simples capela. Situada no centro da cidade, no topo de uma serra, e depois de várias reformas, essa construção domina toda a cidade. É uma testemunha de um tempo, onde a aristocracia rural comandava os destinos da cidade.


Pilões

Cachoeira do Ouricuri: Depois de uma razoável caminhada (opcional) por dentro de trilhas, chega-se a Cachoeira do Ouricuri, que fica numa pequena elevação, dentro de uma mata. Um excelente banho em suas águas frias e cristalinas compensa o esforço da subida.

Floricultura: O cultivo das flores foi a atividade encontrada, depois que os moradores da área ficaram desempregados, quando o engenho onde trabalhavam faliu. Depois de um começo onde pouca gente acreditava, atualmente é uma forte atividade econômica do município. Lideradas por mulheres que fazem parte de uma cooperativa e que promovem o desenvolvimento sustentável, os plantios são exploradas no pé da Serra do Espinho. No local existem muitas estufas para as plantas e os buquês são exportados. Os plantios dão um colorido todo especial ao lugar e aos poucos vão se tornando uma atração turística.


Arara

Santa Fé: É um Santuário que foi erguido em homenagem ao Padre Ibiapina. Está situado bem na divisa com Solânea, onde esse religioso passou os últimos anos de sua vida. O Santuário conta com uma capela, casa dos milagres, pequeno museu (com instrumentos utilizados pelas irmãs nas casas de caridade criadas pelo padre, quadros, utensílios domésticos da época, moedas, etc), casa dos missionários e casa onde morou aquele religioso. É o ponto de chegada dos peregrinos e romeiros que fazem "Os Caminhos do Padre Ibiapina".

Percorrer essas cidades e as zonas rurais do Brejo Paraibano foi como reviver antigas histórias e costumes locais. Conhecemos engenhos, museus, pitorescas cidades, cenários bucólicos e ainda degustamos a culinária regional, presente em restaurantes e engenhos. As baixas temperaturas e a paisagem mansa e verde traduzem a beleza desta região, rica em cultura e gastronomia. Pudemos observar que a vida simples do campo é um contraste com a agitação das cidades de hoje. A cana-de-açúcar ali encontrou clima e terra propícios à sua exploração e foi responsável pela riqueza e progresso que alcançou a região por muitos anos. E ainda é uma das melhores coisas na economia do Nordeste. Além disso, o contato com os demais participantes resultaram em bons papos, regados a uma boa cachaça, e novas amizades.

Esse passeio foi realizado através da Agência AC2 TUR, dirigida por dois competentes profissionais (Antonio Carlos e Ana Cleide), que nos ofereceu Guia de Turismo durante todo o transcurso.

O pacote, pelo valor R$ 200,00 (individual) incluiu: 02 diárias (pernoites em Areia e Solânea), com café da manhã; 03 almoços por participante; guia de turismo acompanhante; guia de turismo local e seguro viagem. Ana Cleide nos informou que já estão preparando outros roteiros. Os interessados poderão entrar em contato pelos fones: (83) 9982-0475 / 9988-0414 e 3268-4173 ou pelos seguintes email: ac2tur@gmail.com e ac2tur@pop.com.br . É bom se apressar, pois a procura é grande. E boa viagem.

Marcos França
contato@culturapopular.com.br
www.culturapopular.com.br



4 comentários:

  1. legal hihihihi mintirinha

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  2. Estive em Areia, e fui visitar o Engenho triunfo, lugar com um jardin belissimo!!!! E os donos do engenho recebe muito bem os visitantes.Fiquei encantada com todo o empreendorismo dos propietarios.Sem contar com o friozinho q faz em Areia. Amei.

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  3. Carlos

    Estive em Areia e visitei todos os museus. Tb fui ver o Bar do Chifre e quando cheguei havia um rapaz chorando o que me deu a impressão que era por causa de chifre, mas qual nada foi devido a uma colisão do seu carro que havia sido comprado a poucos dias atrás.

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  4. Normando Mendes Ribeiro

    Eu moro em Areia e conheço todos os engenhos e adoro, porque minha infância foi toda dentro do engenho Bom Retiro, até hoje ainda tenho um sítio vizinho, onde passo meus finais de semana.

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