O mestre Jessier Quirino narra a trajetória da vida útil que uma lata d´àgua normalmente tem aqui pelas bandas do nordeste.
...E eu que fui enjeitada
Só porque era furada.
Me botaram um pau na boca,
Sabão grudaram no furo,
Me obrigaram a levar água
Muitas vezes pendurada,
Muitas vezes num jumento.
Era aquele sofrimento,
As juntas enferrujadas.
Fiquei com o fundo comido.
Quando pensei que tivesse
Minha batalha cumprido,
Um remendo me fizeram:
Tome madeira no fundo
E tome água e leva água,
E tome água e leva água.
Daí nasceu minha mágua:
O pau da boca caía,
Os beiços não resistiam.
Me fizeram um troca-troca:
Lá vem o fundo pra boca,
Lá vai o pau para o fundo.
Que trocado mais sem graça
Na frente de todo mundo.
E tome água e leva água
E tome água e leva água.
Já quase toda enfadada,
Provei lavagem de porco,
Ai mexeram de novo:
Botaram o pau na beirada.
E assim desconchavada,
Medi areia e cimento,
Carreguei muito concreto
Molhado duro e friento,
Sofri de peitos aberto,
Levei baque dei peitada.
Me amassaram as beiradas,
Cortaram minhas entranhas.
Lá fui eu assar castanha,
Fui por fim escancarada.
Servi de cocho de porco
Servi também de latada.
Se a coisa não complica,
Talvez eu seja uma bica
Pela próxima invernada.
E inverno é chuva, é água,
E eu encherei outras latas
Cumprindo minha jornada.
Jessier Quirino
www.jessierquirino.com.br
Gostei da história da lata do Jessier Quirino. Ele passeia entre a comédia e o sério de forma brilhante! Meu amigo, tem um presente pra você lá no Loobo. Veja no post http://scubi.blogspot.com/2008/08/o-lobo-recebe-selo-federal.html
ResponderExcluirSinta-se à vontade para aceitar (ou não) a homenagem. Um forte abraço!
Gostei de mais do seu blogger , já esta add no meu.
ResponderExcluirvaleu mesmo pelo o presente....
varias ideas para serm trocadas!!
o bem vindo seja .
abraços
Olá, gostei muitíssimo do blog. muito me interessa :)
ResponderExcluirMeu compadre Helio, obrigado pela gentileza! Grande abraço.
ResponderExcluirObrigado Erikinha por tornar este blog mais alegre! Também seja bem vinda. Abraços.
ResponderExcluirMarcos, Parabéns pelo post. Jessier tem a medida certa para falar das coisas nordestina.
ResponderExcluirO Tom certo de voz, a palavra certa e a malicia e graça peculiar do nosso povo.
Isto sim, é: CULTURA POPULAR
A lata da d'água, uma obra de arte seu poema,parabéns
ResponderExcluirW.Marques, o poema é do compare Jessier Quirino, grande poeta paraibano das "nordestinalidades" do Brasil! Eu apenas fiz essa adaptação do vídeo. Grande abraço.
ResponderExcluir>Erikinha >AdrianaSá >Dalinha, agradeço a presença de vocês aqui. Abraços.
ResponderExcluirAgruras da lata d agua
ResponderExcluirdescreve assim nossa meta
pois assim vai o poeta
vivendo alegria e magoa
enquanto o tempo enxagua
nossos sonhos e valores
mudando em fim as cores
do quadro da existência
passamos a experiência
aos novos trovadores
Jessier descreve a gente
com tanta simplicidade
e nossa sociedade
que nos usa totalmente
até quando finalmente
nos joga para um lado
deixando nosso legado
as vezes desconhecido
que será em fim esquecido
nos caminhos do passado