18 junho 2007

No reino de Ariano, delírios e alegorias visuais extravagantes


Ao reconhecer, publicamente, “A Pedra do Reino” (livro editado em 1971) como sendo seu trabalho preferido, Ariano Suassuna também confirma, a partir dele, outros reais significados de conteúdo e forma utilizados na sua obra, como um todo. O apuro alegórico, que gera um realismo fantástico, caricato, permeiam situações e personagens que cria, a exemplo de Quaderna, no seu imaginário e delirante reino de pedra.

Um fantástico e alegórico típicos da Literatura de Cordel, que, segundo ainda Ariano, transcenderia ao próprio regionalismo nordestino. Regionalismo, que, sem embargo algum, sempre esteve presente na sua abordagem, conferindo-lhe, inclusive, um traço autobiográfico, de certo modo "palhaço", aqui, acolá, manifestado através de seus personagens de características circenses.

Tomando-se como parâmetro de avaliação o comportamento, digamos autoral, por parte de alguns de seus personagens, gostaria de lembra a figura do cangaceiro Severino de “O Auto da Compadecida”. Nele, independentemente da sua tenebrosa aparência, existe o sertanejo muitas vezes ingênuo e cheio de dúvidas, para quem o rifle representa, apenas, um instrumento de autodefesa.

Quem se recorda de “Uma Mulher Vestida de Sol”, também miniseriado pela Globo, há de lembrar do personagem “duro”, não afável, vivido por Raul Cortez. Símbolo do patriacardo do Nordeste. São figuras que deixam transparecer no seu íntimo, não apenas na sua aparência física, a desconfiança, a rudeza de caráter, ao mesmo tempo, sensibilidade no trato hilário com determinadas situações de vida.

Na Pedra do Reino, a valorização do imaginário social está presente com todas as letras. Pedro Diniz Quaderna, personagem-condutor de toda a narrativa, ostenta a figura do palhaço que narra sua estória de vida e de descendência de Dom Sebastião, Rei de Portugal, na época da colonização do Brasil. Ele é parte de uma “trupe”, que percorre estradas e povoados do Sertão, maximizando situações e gestos do nosso povo, tudo sob a ótica do sagrado e do profano, próprios do estilo Armorial de Ariano.

Desse universo fantasioso do paraibano Ariano Suassuna, ficam os destaques para o solo que o viu crescer, Taperoá, (enquanto “Remake e Cidade Cenográfica de Sansaruê”, filmes que realizei em 1995) e para a admirável capacidade de atuação dos também nossos Everaldo Pontes, Marcélia Cartaxo e Luiz Carlos Vasconcelos, entre outros. Um agravo, apenas, à qualidade técnica das imagens reproduzidas pela TV. Refiro-me à qualidade; não à forma/estética como as imagens foram dirigidas por Luiz Fernando Carvalho. Sem contar o extravagante “delírio” visual que nos proporcionou, sobretudo, o primeiro capítulo.

Finalizando – agora de volta ao mundo real –, quero também render homenagem a um dos maiores escritores paraibanos vivos, Ariano Suassuna. Que a Parahyba, em toda sua grandeza histórica, cultural e artística, continue sendo refletida através do “espelho de cristal”, este, que sempre foi o elo de ligação do autor com o mito, com o seu fantástico Armorial e a nossa realidade.

ALEX SANTOS
alexjpb@yahoo.com.br
http://www.ancomarcio.com


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