Um dos mitos do Amazonas, que aparece sob diferentes feições. Ora como uma cobra preta, ora como uma cobra grande, de olhos luminosos como dois faróis. Os caboclos anunciam sua presença nos rios, lagos, igarapés e igapós com a mesma insistência que os marinheiros e pescadores da Europa acreditam no monstro de Loch-Ness.
A imaginação amazônica, mais floreada e portentosa, criou para o nosso mito propriedades fantásticas: a boiuna pode metamorfosear-se em embarcação de vapor ou vela e ir da forma de ofídio à navio, para mais trair e desorientar as suas vítimas. Esta cobra, possui diferentes formas encantatórias, conformes dados colhidos entre a população ribeirinha. Acreditam até, que alguns igarapés foram formados pela sua passagem que abre grandes sulcos nas restingas, igapós e em terra firme.
Na Amazônia, ela toma diversos nomes: Boiúna, Cobra Grande, Cobra Norato, Mãe D Água, entre outros, mas independentemente de seu nome, ela é a Rainha dos rios Amazônicos e suas lendas podem ter surgido em virtude do medo que provoca a serpente d água, que devora o gado que mata a sede na beira dos rios.
A Cobra-Grande ou a Boiuna, sobe os rios, entra nos igarapés, devassa os lagos, onde cantam a sua área de beijos os nenúfares opalizados pela luz do luar, transformada em majestoso, todo iluminado e fascinante, que atrai o caboclo extasiado pela sua irradiosa aparição.
Diz a lenda, que Waldemar Henrique, em verso e música traduziu, que uma vez por ano a Boiúna saía de seus domínios para escolher uma noiva entre as cunhãs da Amazônia. E, diante daquele enorme vulto prateado de luar que atravessava vertiginosamente o grande rio, os pajés rezavam, as redes tremiam, os curumins escondiam-se chorando, enquanto um imenso delírio de horror rebentava na mata iluminada...
"Credo! Cruz!
Lá vem a Cobra Grande
Lá vem Boiuna de prata...
A danada vem à beira do rio
E o vento grita alto no meio da mata!
Credo! Cruz!
Cunhatã ter esconde
Lá vem a Cobra Grande
á-á...
faz depressa uma oração
prá ela não te levar
á-á...
A floresta tremeu quando ela saiu,
Quem estava lá perto, de medo fugiu
e a Boiuna passou tão depressa,
Que somente um clarão foi que se viu...
A noiva cunhatã está dormindo medrosa,
Agarrada no punho da rede,
E o luar faz mortalha em cima dela,
Pela fresta quebrada da janela..
Eh! Cobra-Grande
Lá vai ela!..."
Lá vem a Cobra Grande
Lá vem Boiuna de prata...
A danada vem à beira do rio
E o vento grita alto no meio da mata!
Credo! Cruz!
Cunhatã ter esconde
Lá vem a Cobra Grande
á-á...
faz depressa uma oração
prá ela não te levar
á-á...
A floresta tremeu quando ela saiu,
Quem estava lá perto, de medo fugiu
e a Boiuna passou tão depressa,
Que somente um clarão foi que se viu...
A noiva cunhatã está dormindo medrosa,
Agarrada no punho da rede,
E o luar faz mortalha em cima dela,
Pela fresta quebrada da janela..
Eh! Cobra-Grande
Lá vai ela!..."
Em mitos e crenças antigas, era muito comum a afirmação de que as cobras buscavam as mulheres para engravidá-las e acreditava-se também, que a partir da primeira menstruação, as jovens índias virgens estavam particularmente sujeitas a atraírem "o amor de uma serpente", por este motivo, elas evitavam de irem ao mato ou a beira de um rio, quando menstruadas.
A Cobra Grande ou Boiuna é vista à noite, iluminando os remansos dos rios com a fosforescência dos seus olhos constantes. Transforma-se, muitas vezes, em um veleiro, que apresenta uma luz da vermelha à bombordo e outra verde à boreste. que confunde os incautos e desce silenciosamente a torrente dos igarapés. Aí daquele que se aproximar desta forma enganosa, pois estará sujeito a ser arrebatado às profundezas do rio, para nunca mais retornar.
Raul Bopp, autor de "Cobra Norato", para quem a literatura do nosso país não tem mistérios, em seu poema modernista, fala-nos da Cobra Grande:
"Axi Cumpadre
Arrepare uma coisa;
Lá vem um navio
Vem-que-vindo depressa todo aluminado
Parece feito de prata...
Aquilo não é navio Cumpadre
Mas os mastros...e as luises...e o casco doirado?
Aquilo é a Cobra Grande: Conheço pelo cheiro.
Mas as velas de pano branco embojadas ao vento?
São mortalhas de defuntos que eu carreguei: Conheço pelo cheiro.
E aquela bujarrona bordada?
São camisas de noivas da Cobra-Grande: Conheço pelo cheiro.
Eh! Cumpadre
A visage vai se sumindo pras bandas de Macapá.
Neste silêncio de águas assustadas
Parece que ainda oiço um "aí aí" se quebrando no fundo.
Quem será desta vez a moça noiva que vai lá dentro soluçando
Encerrada naquele bojo de prata?"
Arrepare uma coisa;
Lá vem um navio
Vem-que-vindo depressa todo aluminado
Parece feito de prata...
Aquilo não é navio Cumpadre
Mas os mastros...e as luises...e o casco doirado?
Aquilo é a Cobra Grande: Conheço pelo cheiro.
Mas as velas de pano branco embojadas ao vento?
São mortalhas de defuntos que eu carreguei: Conheço pelo cheiro.
E aquela bujarrona bordada?
São camisas de noivas da Cobra-Grande: Conheço pelo cheiro.
Eh! Cumpadre
A visage vai se sumindo pras bandas de Macapá.
Neste silêncio de águas assustadas
Parece que ainda oiço um "aí aí" se quebrando no fundo.
Quem será desta vez a moça noiva que vai lá dentro soluçando
Encerrada naquele bojo de prata?"
Segundo Letícia Falcão, "nos rios Solimões e Negro, a Cobra Grande nasceu do cruzamento de uma mulher com uma assombração (visagem), ou de um ovo de mutum; no Acre, a entidade mítica transforma-se numa linda moça, que aparece nas festas de São João para seduzir os rapazes desavisados. Outra lenda diz que uma linda índia cunhãmporanga, princesa da tribo, ao apaixonar-se pelo Rio Branco (Roraima), foi transformada numa imensa cobra chamada Boiúna, pelo enciumado Muiraquitã." Mas também, segundo esta autora, há uma versão em que transforma a Cobra Grande como uma "benfeitora na navegação", cujos olhos iluminados como dois faróis, auxiliam os navegadores em noites escuras e em meio à tempestades.
+ Folclore Brasileiro
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